O Estado de São Paulo, n. 44741, 16/04/2016. Política, p. A6

Após decisão do PSD, Kassab deixa Cidades

Ministro entregou sua carta de demissão ontem à noite sob a justificativa de que não se sente confortável para permanecer no cargo
Por: Tânia Monteiro / Vera Rosa

 

Tânia Monteiro

Vera Rosa / BRASÍLIA

 

Dois dias depois de a bancada do PSD na Câmara dos Deputados decidir apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, pediu demissão. Kassab entregou o cargo ontem à noite ao ministro- chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, alegando se sentir desconfortável para se manter na equipe.

Dos 37 deputados do PSD, somente sete estão dispostos a votar contra o afastamento de Dilma Rousseff. À frente da pasta que cuida do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, Kassab já havia dito à própria presidente, na quarta-feira passada, que sairia da equipe por não conseguir convencer a bancada a apoiar a permanência dela no Palácio do Planalto.

A presidente pediu ao ministro que esperasse até amanhã, dia da votação do impeachment na Câmara, para ajudá-la a conquistar mais adesões. Diante da pressão do PSD, no entanto, Kassab desistiu de ficar no governo e ontem foi falar com Wagner. “Independentemente do resultado da votação do impeachment, queria comunicar a minha decisão de deixar o governo”, disse ele ao chefe do Gabinete Pessoal da Presidência.

O Palácio do Planalto considerou a saída de Kassab como um duro revés, no momento em que tenta aglutinar forças contra o impeachment.Nos bastidores, o comentário na Esplanada é que Kassab está conversando com o vice presidente Michel Temer e também com o senador José Serra (PSDB) sobre a montagem de uma nova equipe, em caso de impeachment de Dilma. Ele nega.Ontem, porém, conversou com Temer e com o ex-ministro Eliseu Padilha.

 

Cargo. Ex-prefeito de São Paulo e aliado de Serra, Kassab assumiu o Ministério das Cidades no segundo mandato de Dilma, em janeiro de 2015. Para acomodar o PSD, a presidente deslocou o PP para a Integração Nacional.O PP ficou contrariado e, agora, a bancada do partido também resolveu apoiar a saída de Dilma. No início do segundo mandato de Dilma, Kassab articulou a criação de um novo partido, o PL.

Como aval de Aloizio Mercadante, então ministro da Casa Civil, a ideia era conseguir uma base de sustentação mais leal para Dilma no Congresso, reduzindo a influência do PMDB. O movimento também tinha o apoio de Cid, então ministro da Educação, e de Ciro Gomes, que à época estavam no Pros. A criação do PL, no entanto, não vingou. Mesmo assim, o PMDB de Temer nunca perdoou Dilma por essa iniciativa.“

Esse negócio de pegar Cid e Kassab para criar partidos ou aumentar a base foi um equívoco”, disse na ocasião o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.“Não tem justificativa o que foi feito. Que parlamentares eles influenciam?”

 

Decisão

“Independentemente do resultado da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, queria comunicar a minha decisão de deixar o governo”

Gilberto Kassab

MINISTRO DAS CIDADES, AO PEDIR DEMISSÃO DO CARGO NA NOITE DE ONTEM