Título: Alerta para os problemas na segurança
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2011, Política, p. 3

O acidente nuclear em Fukushima, no Japão, em março deste ano, acabou por evidenciar as falhas dos programas nucleares mundo afora. No Brasil, não foi diferente. Os problemas de segurança, gestão, licenciamento e fiscalização envolvem exatamente a Cnen e a INB e têm como pano de fundo a inexistência de uma agência reguladora. Depois que o Brasil precisou importar urânio, por causa de licenças travadas, e diante da revelação de que Angra 2 operou por 10 anos sem uma licença definitiva, o governo trocou o comando da Cnen. Odair Dias Gonçalves foi demitido pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que nomeou em junho o atual presidente, Angelo Padilha. A troca, porém, não amenizou os conflitos e as divergências no setor nuclear, nem levou à correção de irregularidades na extração do urânio e no funcionamento das usinas.

Prestes a ser demitido, Odair divulgou um documento com 12 irregularidades cometidas pela INB na extração do urânio em Caetité (BA), onde fica a única mina de onde é extraído o mineral. O então presidente da Cnen apontou problemas, como transbordamento de solventes e rompimento de tubulações; dispersão de líquidos contendo urânio; desmoronamento do talude da mina a céu aberto; contaminação em um poço de monitoração; lançamentos indevidos de efluentes; contaminação da parte subterrânea da usina; e atrasos em obras. Conforme o documento, a produção da INB era ineficiente porque não se cumpriam "critérios de engenharia, segurança nuclear e proteção radiológica". A intenção de Odair foi mostrar que a culpa pela importação de urânio, fato que enfureceu a presidente Dilma, foi da própria INB. O presidente da Cnen perdeu o emprego. O da INB, Alfredo Tranjan Filho, permanece no cargo.

O atual presidente da Cnen, Angelo Padilha, não confirma se as irregularidades detectadas na INB foram sanadas. A nota enviada ao Correio se limita a dizer que "o cumprimento das exigências feitas está sendo acompanhado com rigor pela Cnen". Para a INB, o assunto já foi esclarecido há 10 meses com o ministro da Ciência e Tecnologia.

Greve Depois desse episódio, a INB já foi multada em R$ 600 mil pelo Ibama em razão de uma troca irregular de tambores que continham urânio ¿ emprestado pela Marinha ¿, com risco aos trabalhadores. A estatal enfrenta, agora, a paralisação dos trabalhadores que atuam na extração de urânio. Eles querem que as horas extras pagas sejam incorporadas aos salários. A greve já dura mais de duas semanas.

Na quinta-feira, após a realização de uma audiência pública na Câmara para discutir a situação do setor de energia nuclear no Brasil, o ministro Aloizio Mercadante divulgou uma nota em que sustenta que a agência reguladora está prestes a ser criada. Segundo ele, os estudos já foram concluídos pela Cnen. "Esperamos superar eventuais resistências por meio do diálogo e da negociação. Assim que estiver concluída, enviaremos a proposta para a Casa Civil, para que seja posteriormente encaminhada ao Congresso." (VS)