O Estado de São Paulo, n. 44741, 16/04/2016. Política, p. A9

MST BLOQUEIA VIAS EM ATOS CONTRA O IMPEACHMENT

Manifestantes protestam em ao menos 15 Estados; líder dos sem-terra afirma que movimentos sociais não vão reconhecer governo Temer
Por: Leonêncio Nossa / André Borges / Diego Ortiz / Victor Martins/ Constança Rezende/ José Maria Tomazela / Aline Torres / Leonardo Augusto

 

Manifestantes realizaram ontem uma série de protestos pelo País contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Movimento dos Sem Terra (MST) convocou a maior parte dos atos. Militantes bloquearam rodovias em ao menos 15 Estados. Os protestos tiveram também a participação de outros movimentos sociais e sindicatos.

Em Brasília, o economista João Pedro Stédile, principal líder do MST, disse que num eventual impeachment de Dilma, os movimentos sociais não vão reconhecer a legitimidade de um governo comandado pelo vice Michel Temer.

Stédile esteve ontem no acampamento da Frente Brasil Popular, em frente ao Ginásio Nilson Nelson. O local onde estavam acampados mais de 2 mil manifestantes deverá receber hoje a visita da presidente.

O líder sem-terra afirmou ainda que, em caso da aprovação do afastamento da presidente na Câmara amanhã, os movimentos sociais vão realizar uma paralisação nacional antes da decisão do Senado.

“Se perdermos dia 17, nós não vamos reconhecer o governo Temer. O governo Temer não terá legitimidade para tomar nenhum ato. Será um governo golpista. Portanto, ele estará de costas para a legalidade e os trabalhadores”, disse.

“Minha avaliação como militante é que um governo Temer seria um caos, porque não teria legitimidade, porque nenhum movimento popular, nenhuma igreja e nenhum intelectual ou professor da USP vão dar bola para ele, a não ser a filha do (Hélio) Bicudo se entrar em transe de novo”, completou, numa referência à professora Janaína Pascoal, uma das autoras do pedido de impeachment - ela não tem parentesco com Bicudo, que também assina o pedido de impeachment.

Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), garantiu que, independentemente do resultado da votação de amanhã, os ativistas não darão trégua. “Os movimentos populares não sairão mais das ruas. É inadmissível que, depois de tudo, a presidente Dilma prossiga no governo com essas pessoas que estão aí”, disse Boulos.

Os líderes dos movimentos se preocupam com possíveis atos de violência durante as manifestações, apesar do forte esquema de segurança anunciados pelo governo de Brasília, com cerca de 4 mil policiais. “Temos visto com muita preocupação essas campanhas de intolerância e agressão. Não vamos entrar em provocação, mas também não vamos nos intimidar”, comentou o líder do MTST.

“Toda a orientação da coordenação da Frente Brasil Popular é para nós não cairmos em provocação”, ressaltou Stédile. Organizações contrárias ao processo de impeachment de Dilma estimam que aproximadamente 200 mil pessoas participarão das manifestações em Brasília amanhã.

Ontem, segundo o MST, cerca de 50 mil pessoas participaram dos protestos pelo País - 8 mil apenas no Paraná. A Polícia Rodoviária Federal não divulgou estimativas em todos os Estados que foram alvo de manifestações. Em Curitiba, na BR-277, um grupo do MST bloqueou os dois sentidos da rodovia em protesto contra o afastamento da presidente. Favoráveis a continuidade do governo Dilma Rousseff, integrantes do movimento bloquearam dois pedágios na BR-116, no Norte de Santa Catarina. A PRF registrou protestos também nas cidades de Monte Castelo, no Norte, e Correia Pinto, na Serra.

 

 

Eldorado dos Carajás.  Cerca de 300 sem-terra bloquearam a rodovia BR-155, em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Os manifestantes protestavam contra o impeachment de Dilma e contra o chamado massacre de Eldorado dos Carajás. Em 1996, 19 militantes do MST foram mortos por policiais militares durante o cumprimento de uma ordem de reintegração de posse. O grupo acampou nas margens da estrada. Com a rodovia totalmente bloqueada entre Eldorado e Marabá, o trânsito foi desviado por estradas vicinais.

Em São Paulo, os protestos começaram por Diadema, na Rodovia dos Imigrantes, onde cerca de 100 pessoas fecharam a pista das 7h às 7h50, gerando sete quilômetros de congestionamento. Outros 100 manifestantes, segundo a PM, bloquearam a pista da Rodovia Anhanguera na altura do km 313. A pista ficou fechada por uma hora. Integrantes do MST fizeram atos contra o impeachment também em Itupeva e Ourinhos. Na primeira, 100 pessoas (de acordo com a PM) fecharam a SP-258 com tratores e máquinas agrícolas. A pista ficou fechada das 8h às 10h. Já em Ourinhos, seis ônibus ficaram atravessados na pista enquanto 200 pessoas lançaram gritos de ordem a favor do governo. A BR-153 ficou fechada das 8h às 12h gerando três quilômetros de congestionamento. Também houve protestos em São Carlos e em Ribeirão Preto.

Na Capital, a Marginal Tietê ficou bloqueada por uma hora no sentido da Rodovia Castello Branco. Manifestações também aconteceram no Viaduto do Chá e na Avenida Paulista, em três faixas no sentido Paraíso.

 

CNA. A sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) quase foi invadida em Brasília. Cerca de 100 integrantes de movimentos sociais forçaram as portas por 20 minutos, mas a PM chegou a tempo e conseguiu impedir a entrada. Em Minas Gerais, 300 pessoas incendiaram pneus e fecharam a BR-050 na altura de Uberlândia por uma hora. A 850 quilômetros dali, a BR-116 também foi bloqueada na altura de Governador Valadares das 8h às 11h30.

No Rio, cerca de 50 integrantes do MST fecharam a Rodovia Presidente Dutra, sentido São Paulo, na altura do município de Piraí. A interdição começou por volta das 9h e durou até às 10 h.

Na Bahia, trabalhadores no Polo Industrial de Camaçari paralisaram e sindicatos vinculados à CUT fizeram uma passeata nas principais avenidas de Salvador. Em Belo Horizonte, cerca de 600 pessoas participaram hoje de ato contra o impeachment na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). / LEONÊNCIO NOSSA, ANDRÉ BORGES, DIEGO ORTIZ, VICTOR MARTINS, CONSTANÇA REZENDE, JOSÉ MARIA TOMAZELA, ALINE TORRES e L E O N A R D O AUGUSTO

 

“O governo Temer não terá legitimidade para tomar nenhum ato”

João Pedro Stédile, líder do MST