O Estado de São Paulo, n. 44744, 19/04/2016. Política, p. A4

TEMER DEFINE ÁREAS PRIORITÁRIAS DE SEU GOVERNO; DILMA SE DIZ ‘INJUSTIÇADA’

No dia seguinte à aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados, vice-presidente inicia em São Paulo articulação com interlocutores do meio empresarial para formação de um novo Ministério; em Brasília, a presidente afirma que vai ‘continuar lutando’

 

Com a aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados anteontem e a decisão da presidente Dilma Rousseff de lutar pelo mandato no Senado, a crise política brasileira produziu ontem um cenário de incertezas administrativas com potencial de paralisar ainda mais o País nos próximos dias. Enquanto a petista convocava a imprensa em Brasília para dizer que se sentia injustiçada e assistia à decomposição de seu governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em São Paulo, articulava nos bastidores a formação de um novo Ministério, porém sem o poder efetivo de fazer nomeações. O resultado foi um vácuo de poder no Executivo que deverá permanecer até o Senado definir com clareza o cronograma de análise do afastamento da presidente.

Interlocutores do meio empresarial e político que conversaram com Temer nos últimos dias avaliam que ele está com muitas dificuldades em definir qual agenda econômica adotará caso venha a assumir o cargo. O vice está sob pressão do mercado para fazer um ajuste severo nas contas públicas. Porém, o meio político receia o corte de despesas em ano eleitoral. De acordo com assessores de Temer, somente após o peemedebista deixar claro ao País qual será sua estratégia para a economia é que ele conseguirá atrair apoios significativos na sociedade civil e encontrar um time de “notáveis” dispostos a formar seu Ministério. Ontem, o peemedebista decidiu elaborar um projeto para a área social como forma de rebater as acusações do PT de que irá acabar com o Bolsa Família.

Apesar da derrota por larga vantagem para a oposição no plenário da Câmara, Dilma e o PT trabalham para impedir ou dificultar a posse de Temer. A presidente afirmou que “vai continuar lutando” e que espera um decisão favorável do Supremo Tribunal Federal amanhã para ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Com o petista no ministério, Lula e o PT esperam reverter a decisão da Câmara. Ontem, a papelada relativa ao processo de impeachment chegou oficialmente aos senadores. Também ontem,  em depoimento à Justiça, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró afirmou que o Presidente do SenadoRenan Calheiros(PMDB-AL), recebeu propina de US$ 6 milhões por meio do lobista Jorge Luz, apontado como um dos operadores de propinas no esquema de desvios da estatal.