O Estado de São Paulo, n. 44744, 19/04/2016. Política, p. A8

Uma em cada três pastas está com ministro ‘tampão’

Planalto contabiliza saídas de titulares que deixaram o governo após votação a favor do impeachment, como em Integração Nacional
Por: Murilo Rodrigues Alves / Vera Rosa / Tania Monteiro / Luci Ribeiro

 

Murilo Rodrigues Alves

Vera Rosa

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

 

A autorização para abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff já começa a provocar uma debandada no primeiro escalão, mas o Palácio do Planalto ampliou a ofensiva para segurar ministros. Até agora, Dilma conseguiu manter cinco dos sete titulares do PMDB. Mesmo assim, passada a derrota na Câmara, o governo tem um terço dos 30 ministérios chefiado por “tampões”.

Os ministros da Saúde, Marcelo Castro, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, mantiveram-se fiéis a Dilma e foram reconduzidos aos cargos. Eles haviam deixado os postos e reassumidos suas cadeiras na Câmara apenas para votar contra o impeachment. Na noite de ontem, 18, o titular dos Portos, Helder Barbalho (PMDB), estava disposto a entregar o cargo a Dilma, mas ela pediu sua ajuda e o convenceu a ficar, ao menos por enquanto. Helder é filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que era líder do governo no Senado, permanecerá na equipe. “Não podemos tomar nenhuma medida de forma precipitada e não farei isso”, disse Braga. O governo não teria mais um voto com o retorno de Braga ao Senado porque a mulher dele, Sandra, também filiada ao PMDB, é sua suplente. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, fica por enquanto à frente da pasta, mas, se for necessário, pode reassumir sua cadeira no Senado para votar contra o impeachment.

Dilma demitiu Mauro Lopes, que era do PMDB e comandava a Aviação Civil. No plenário da Câmara, ele votou pela deposição da presidente. “Portanto, não é mais ministro do meu governo”, afirmou ela. Lopes ocupava o cargo que já foi de Eliseu Padilha, braço direito do vice-presidente Michel Temer. A nomeação dele agravou ainda mais a relação entre a presidente e o vice.

A posse de Lopes foi no mesmo dia que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como chefe da Casa Civil. Desde que o Supremo Tribunal Federal suspendeu a nomeação de Lula, Eva Chiavon é quem tem assinado as decisões da Casa Civil no lugar de Jaques Wagner, transferido para o Gabinete Pessoal da Presidência. Ontem, Dilma disse esperar que o Supremo autorize Lula a assumir a pasta nesta semana.

 

Traição. Uma das traições que mais irritaram a presidente foi a de Gilberto Kassab (PSD), que deixou o Ministério das Cidades na sexta e teve a exoneração confirmada ontem, 18. Na carta de demissão, Kassab disse concordar com Dilma na necessidade de um pacto. “Defendemos com vigor a convivência e harmonia entre as diferentes posições como garantia de governabilidade”, escreveu Kassab, que negocia com Temer.

Com a deserção do PP, Gilberto Occhi deixou o cargo e Josélio de Andrade Mouro é quem assumiu interinamente o Ministério da Integração. Mouro entrou na sexta-feira, depois do cancelamento da nomeação de José Rodrigues Pinheiro Dória para exercer, também interinamente, a função. Dória também é integrante do PP, mas ficaria no posto na cota da ala governista da legenda. No mesmo dia em que foi nomeado, no entanto, Dória resolveu renunciar ao cargo de ministro porque o PP optou não só por abandonar a base do governo, mas também por fechar questão a favor do impeachment, punindo os dissidentes.

O Turismo foi outro que ficou sem titular depois que Henrique Eduardo Alves saiu. Em seu lugar entrou o secretário executivo, Alberto Alves.

Às vésperas da Olimpíada, o Esporte está sendo chefiado por Ricardo Leyser Gonçalves, no lugar de George Hilton, que havia se desfiliado do PRB para continuar na pasta depois que a sigla decidiu romper com o governo. Leyser é do PC do B e era o responsável no governo por cuidar dos temas relativos aos Jogos Olímpicos. Nas fileiras do PT, Dilma reconduziu ontem o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, outro que havia retornado à Câmara apenas para votar contra o impeachment.

 

Cargos

O governo tentou usar cargos de segundo escalão para atrair apoio na votação do impeachment. A estratégia chegou a ser formalmente questionada na Justiça pela oposição.

 

BAIXAS MAIS RECENTES

Gilberto Kassab

O ex-prefeito paulistano obteve respaldo de Dilma para criar o PSD, em 2011, e retribuiu o apoio levando o novo partido para a base governista. Em 2015, foi agraciado com o Ministério das Cidades. Mas os deputados do PSD, muitos egressos do DEM, pressionaram pelo impeachment. Kassab não interveio, e pediu demissão na sexta-feira

 

Mauro Lopes

O deputado do PMDB mineiro aceitou assumir a Secretaria de Aviação Civil mesmo após o partido decidir que não aceitaria novas indicações por um prazo de 30 dias. Lopes permaneceu com o governo mesmo com o rompimento do partido, mas na semana passada decidiu reassumir o mandato. Acabou votando a favor do impeachment de Dilma

 

Gilberto Occhi

Ligado ao PP, Occhi já havia assumido a pasta de Cidades com Dilma. Após a reeleição, foi transferido para a Integração Nacional. Quando o partido decidiu romper com o governo, Occhi pediu demissão. O Planalto tentou nomear um substituto ligado à ala governista do PP, mas a nomeação de José Pinheiro Dória foi cancelada no mesmo dia