O Estado de São Paulo, n. 44740, 15/04/2016. Política, p. A7

PP endurece e tira 2º ministro em 2 dias

Sigla decide fechar questão a favor do impeachment e punir quem descumprir orientação; com isso, indicado para Integração desiste do cargo

Por: Igor Gadelha

 

Igor Gadelha / BRASÍLIA

 

Em reação às negociações no varejo do Planalto com deputados após o desembarque do partido da base aliada, o PP decidiu fechar questão a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e, assim, punir os parlamentares que não seguirem a determinação da legenda. O efeito foi imediato: o ministro da Integração Nacional que o governo havia nomeado por indicação da ala governista do PP ficou apenas algumas horas no cargo e já pediu exoneração.

Com isso, a cúpula do PP espera que todos os 46 deputados da bancada votem pelo afastamento de Dilma. O fechamento de questão do partido foi articulado pela direção da legenda, após o deputado Dudu da Fonte (PE) ter negociado anteontem com o Planalto a nomeação do substituto de Gilberto Occhi na Integração Nacional, mesmo após o rompimento da sigla.

Dudu da Fonte articulou a nomeação de José Rodrigues Pinheiro Dória para substituir Occhi. O ex-ministro também foi indicado pelo PP e tinha pedido demissão naquele dia, seguindo o desembarque da sigla. Horas após ter sua nomeação publicada no Diário Oficial da União, Dória desistiu do cargo.

Na terça-feira, Fonte chegou a anunciar que romperia com o governo e votaria a favor do impeachment. Ele reclamava que o Planalto tinha escolhido o “interlocutor errado” para negociar em nome da bancada, em referência ao senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido. Após o desembarque, o deputado aproveitou a brecha para negociar com o Planalto.

 

Reunião. Apesar de a cúpula do PP já ter articulado o fechamento de questão, a decisão só será oficialmente anunciada hoje, 15, após reunião da Executiva Nacional do partido, marcada para o fim da tarde. Pelo estatuto da sigla, o fechamento deve ser aprovado tanto pela bancada do Congresso quanto pela Executiva.

Deputados da ala pró-impeachment do PP prometem pedir a expulsão daqueles que não votarem a favor do impedimento. Eles ameaçam pedir a intervenção dos diretórios regionais, caso eles mantenham o apoio a Dilma.

Os quatro deputados do PP da Bahia tentam evitar o fechamento de questão. Eles alegam que querem votar contra o impeachment por serem aliados do governador baiano, Rui Costa (PT). Reservadamente, contudo, admitem que, caso a direção insista na punição, terão de mudar de posição.

Além de fechar questão pró-impeachment, o PP intensificou as negociações com o vice-presidente Michel Temer. Ciro Nogueira esteve algumas vezes com o peemebidesta nos últimos dias. Além de fazer um relato sobre como a bancada vai se portar, o dirigente conversou sobre espaço no governo.

Temer tem feito “acenos” de mais espaço para o PP, caso assuma a Presidência da República no lugar de Dilma. O vice, no entanto, tenta manter certa discrição ao delegar as ofertas mais diretas a aliados como o ex-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

O PP teria recebido como oferta os Ministérios da Integração Nacional e das Cidades, mas o partido cobiça a pasta da Saúde, mais relevante e com maior orçamento. / COLABOROU DANIEL CARVALHO