Título: O grid de largada
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2011, Política, p. 4

Com o PSB forte no Nordeste e o PSD em São Paulo, faltará apenas que a relação entre os dois se consolide para o surgimento de algo novo rumo ao futuro, longe do PT e do PSDB. É isso que mais assusta hoje petistas e tucanos

O grid de largada

Político é bicho esquisito. Nem bem chegou a 2012, eles já preparam parte dos movimentos para a eleição seguinte. Isso está acontecendo em todos os partidos. Sem exceção. Inclusive no PT. Semana passada, em Pernambuco, o partido de Lula tratou de promover filiações de pré-candidatos a prefeito em municípios importantes administrados por aliados do governador Eduardo Campos. E para muitos não há dúvidas: tratou-se de um movimento coordenado. Afinal, se o PT conquistar agora prefeituras que hoje pertencem ao PSB e aos maiores partidos da base de Eduardo, o governador se enfraquece para tentar levar alguém do PSB para o governo estadual em 2014 e se preparar para uma carreira solo longe dos petistas. Simples assim.

Campos não tem nada de bobo. Percebeu o movimento do PT e tratou logo de colocar um nome do PSB na linha de frente em Recife, a capital que os petistas esperam reconquistar com o apoio do PSB na eleição de 2012. Agora, está na seguinte situação: Ou o PT respeita o espaço do PSB e seus aliados ou não terá o apoio que deseja para eleger o prefeito da capital.

O caso, ocorrido lá no Nordeste, onde os paulistas olham por cima do ombro, não chamou tanta a atenção nem da mídia, nem dos políticos, mais preocupados com os reflexos da filiação de Henrique Meirelles ao PSD de São Paulo. Mas, no geral, pode ter sido um dos movimentos mais importantes dentro dessa largada rumo a 2012 e 2014. Explica-se: O episódio mostra que a relação entre o PT e Eduardo Campos não é lá fofinha nem doce como um marshmellow. E que os petistas, se puderem esmagam o governador na primeira esquina, leia-se, nas eleições municipais.

Afinal, em várias reuniões reservadas os petistas se referem a Eduardo Campos como um fator de risco para o projeto do PT de permanecer no poder a médio e longo prazos. É jovem, jeitoso e tem trânsito em todos os partidos do governo e da oposição. Tem uma parceria com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a novidade da próxima eleição. A relação entre eles é boa, mas não é sólida o bastante para promessas de casamento. Tanto é assim que Eduardo não deixou o PSD pernambucano crescer tanto quanto Kassab gostaria, conforme mostrou a reportagem do Correio de hoje, pode ser inclusive um dos estados onde Kassab menos emplacou prefeitos.

Da mesma forma que Campos não abriu todas as portas para o PSD em Pernambuco, Kassab não deixou o portal de São Paulo escancarado ao ponto de deixar Eduardo Campos fincar seus pés no celeiro dos votos no Brasil __ onde todo o político que deseja a Presidência da República precisa ter algum espaço. Kassab quer São Paulo para fortalecer o seu PSD e mais ninguém. E isso inclui lançar candidato próprio à sua sucessão. Embora o prefeito paulistano não diga isso agora, o plano A é esse. Daí, o ingresso de Henrique Meirelles no partido.

Com o PSB forte em Pernambuco e Kassab em São Paulo, faltará apenas a relação entre os dois se consolidar para que surja algo novo rumo ao futuro, longe do PT e do PSDB. É isso que mais assusta hoje tanto petistas quanto tucanos. Por enquanto, apenas o PT age de forma a tentar esmagar Eduardo. E se continuar assim, o governador acabará tomando outra direção. O PSDB ainda não jogou Kassab no colo do PSB, muito menos do governo Dilma. Mas o fato é que Kassab já foi muito mais próximo dos tucanos do que é hoje.

Com todos os movimentos dos últimos dias, que ninguém duvide: o vulcão da política, aquele que volta e meia queima o presente e constrói o futuro, entrou em atividade. E é fato que, assim como ninguém segura um vulcão na natureza, na política não raro acontece a mesma coisa. Dilma Rousseff e Lula, entretanto, ainda podem evitar a erupção caso a economia não se derreta e o povo fique ao seu lado. Resta saber se terão sabedoria para isso. Como me disse um petista dia desses, a capacidade do partido de fazer besteira às vezes se sobrepõe aos acertos. Cutucar Eduardo em Pernambuco pode ter sido o começo.