Por: Ricardo Brito /Julia Lindner
Ricardo Brito
Julia Lindner / BRASÍLIA
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez nesta quarta-feira, 20, um duro ataque ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vem pressionando os senadores para apressar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na segunda-feira, 18, um dia após os deputados aprovarem o pedido contra a presidente, Cunha disse que a Câmara não votará nada relevante até que o impeachment seja apreciado pelos senadores.
"Quanto mais o presidente da Câmara tentar interferir no ritmo do andamento do processo no Senado sinceramente ele só vai atrapalhar", disse Renan. "A paralisação da Câmara não ajuda o Brasil, esse 'locaute' não ajuda o Brasil, ele só atrapalha ainda mais a situação que já é muito ruim".
Para o peemedebista, de todos os impeachments, a autorização dada pela Câmara para que o Senado aprecie o pedido contra Dilma foi o que mais demorou. Segundo ele ,isso se deu justamente por causa da judicialização do processo.
Renan disse ainda que o Senado, “por mais que se queira”, não pode atropelar prazos e nem deve fazer isso perante a História. Em outra referência indireta à Câmara, ele disse que, enquanto a Casa votava o impeachment, o Senado apreciava uma série de projetos, entre eles a Lei de Responsabilidade das Estatais, as mudanças na exploração do pré-sal e o desaparelhamento da gestão dos fundos de pensão.
Para o peemedebista, o Senado vai “sempre” distinguir os interesses do Brasil dos interesses dos governos, que são “efêmeros e passageiros.” Mantendo o discurso de que age de forma imparcial, Renan não quis opinar sobre se o relator da comissão do impeachment, que deve ser eleito na segunda-feira, deve ser de partido neutro.
Cunha rebate. Em nota, Eduardo Cunha rebateu as declarações de Renan e disse que, “em momento algum”, declarou que iria paralisar os trabalhos da Casa. “Apenas disse que a Câmara poderia parar por vontade da maioria dos parlamentares”, afirmou no comunicado.
“Eu como presidente vou colocar a pauta para votar, os partidos é que vão decidir”, afirmou na nota. No texto, Cunha reafirmou que a pauta de votações da Casa continua a mesma. Ontem, ele avaliou que não será votado nenhum projeto na Câmara a não ser que seja para “derrubar” e que, caso a falta de votações pudesse gerar um “shutdown” na economia do País, seria mais um motivo para o Senado “se apressar”. “A Câmara dificilmente vai participar de uma sessão do Congresso para votar esse projeto (da redução da meta)”, sinalizou.
Em entrevista coletiva, Cunha chegou a dizer que “a Câmara derrubou o governo”. Ele se corrigiu em seguida, ao ser questionado, já que a decisão final sobre o afastamento da presidente Dilma ainda cabe ao Senado.“Como é que vão ficar as relações nas votações? Semana que vem o governo não será reconhecido pela Casa. Nós temos uma ainda presidente da República e ninguém vai reconhecer absolutamente nada”.
Renan Calheiros sinalizou haver dificuldades políticas para eventual apreciação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe antecipar para outubro as eleições do presidente e vice. Essa PEC foi apresentada ontem por um grupo de 27 senadores, com apoio inclusive de petistas. Segundo Renan, é “muito difícil” qualquer movimento agora.
Partidos
“Eu vou colocar a pauta para votar, os partidos é que vão decidir”
Eduardo Cunha
PRESIDENTE DA CÂMARA