O globo, n. 30.207, 20/04/2016. País, p. 7

Aliança ‘começa mal’, afirma líder do PSDB

Convite de Temer a Thomas Traumann, ex-ministro de Dilma, irrita tucanos, que rejeitam convites

-BRASÍLIA- Dois dias após a aprovação do impeachment na Câmara, possibilitada em grande parte graças a uma aliança informal entre PMDB e PSDB, as negociações entre os dois partidos ficaram atravancadas. Além da negativa do economista Armínio Fraga, ligado ao PSDB, em integrar um eventual governo Temer, o líder tucano no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse ontem que as conversas entre Thomas Traumann, ex-ministro de Dilma Rousseff, com o vice-presidente, são um mau presságio.

JORGE WILLIAMO negociador. O senador Aécio Neves tenta articular a aproximação com o PMDB: “Não vamos bombardear Temer”

— As coisas estão começando muito mal com o PMDB levando o Thomas Traumann para o governo. Assim, é melhor que o PMDB comece a montar o governo todo logo com o PT — afirmou Cunha Lima.

O senador lembrou que o PSDB é autor de ações na Justiça contra Traumann, quando era ministro da Secretaria de Comunicação Social de Dilma, por crime de responsabilidade pelo uso da estrutura do governo para atacar adversários em 2015 e também durante a campanha presidencial em 2014.

— O jogo sujo naquela guerra de comunicação, foi o Traumann que começou. Temer trouxe uma notícia muito negativa. É um “trauma” para a gente — enfatizou o senador.

Thomas afirmou que foi chamado por Michel Temer para falar sobre a comunicação de governo “diante dos graves desafios” que poderá enfrentar na hipótese de o impeachment passar no Senado, mas que “não há chance” de voltar a trabalhar em governo, seja do peemedebista, ou qualquer outro. O ex-ministro disse que Cunha Lima se mostrou “desinformado”:

— Eu fui responsável pelas redes oficiais do governo Dilma, não pela campanha eleitoral. Ao me atacar, ele desperdiça munição: eu não vou para o governo. ‘NÃO VAI TER INDICAÇÃO DO PSDB’ Na noite de segunda-feira, em jantar em São Paulo ao lado de Armínio Fraga, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), reafirmou a Temer que o partido não fará indicações para seu eventual governo, mas que não irá “virar as costas”. O maior temor de Aécio é se tornar “sócio” de um governo que não se sabe ainda como será.

— Se você indica nomes, vira sócio de algo que não se sabe o que vai ser ainda. Parafraseando Drummond: no meio do caminho, tem um governo Temer. Vamos ver o que fazer com ele — comentou Aécio.

A posição do PSDB, segundo o tucano, será “colaborativa e não reivindicatória”. Qualquer conversa sobre participação do partido deverá ser feita de forma “institucional”, com a direção do partido, reforçou Aécio.

— Sabemos que corremos um risco, mas não vamos bombardear o governo Temer, nem virar as costas para o Brasil. Não vamos dar uma de PT e expulsar do partido. Não vamos impedir o senador José Serra ou outro de participar se houver uma combinação, mas não vai ter indicação do PSDB — afirmou o senador.

Na próxima semana, Aécio irá se reunir com a bancada de deputados do partido para unificar este discurso, o que já fez nesta terça-feira com os senadores. Dentro de duas semanas, pretende fazer uma reunião da Executiva do PSDB para fechar uma agenda de propostas que serão apresentadas a Temer e servirão de base para a aliança entre PMDB e PSDB nos próximos tempos.

Além do senador José Serra (SP), já até cotado para assumir uma pasta o senador Aloysio Nunes (SP), candidato a vicepresidente na chapa de Aécio Neves em 2014. Nunes disse ontem que não vê problemas em integrar o governo desde que plataformas ligadas aos tucanos sejam respeitadas.