O globo, n. 30.207, 20/04/2016. Opinião, p. 20

Eleição no Peru evidencia acerto na economia

Os eleitores peruanos irão às urnas mais uma vez, no dia 5 de junho, para escolher em segundo turno seu futuro presidente. Cerca de 23 milhões de cidadãos estão registrados para votar no sucessor do presidente Ollanta Humala e em 130 parlamentares. Na disputa se enfrentarão Keiko Fujimori, que obteve 39,5% na primeira votação, e Pedro Pablo Kuczynski, segundo colocado, com 21,6% dos votos. Os dois candidatos prometem continuar as políticas atuais de estímulo ao investimento das empresas, que permitiram o país crescer com baixa inflação nos últimos 15 anos, superando outras economias latino-americanas.

A inflação anual em março alcançou 4,3%, e analistas pesquisados pelo banco central peruano preveem que em 2017 ela cairá para 2,8%. Diante de uma inflação sob controle, a autoridade monetária manteve a taxa de juros inalterada em 4,25% na semana passada, após uma série de elevações. Com a economia nos eixos, a retórica dos candidatos tem sido a de manter o rumo, com aprofundamentos pontuais. Keiko prometeu apertar a legislação anticorrupção; ao passo que Kuczynski disse que reduzirá impostos sobre venda de mercadorias.

Mas pesa sobre a candidata a sombra do pai, o ex-ditador Alberto Fujimori, que hoje cumpre pena no Peru por corrupção. Durante a campanha, ela buscou ao máximo escapar a esta associação, mas o sobrenome de família é por demais conspícuo. Ele infunde temores ao evocar uma gestão populista, autoritária e corrupta. Embora não se possa dizer que a candidata seguirá os passos do pai, os eleitores certamente especulam sobre essa possibilidade.

Não à toa, crescem os sinais de um movimento em prol do voto útil, afunilando apoio para o rival, um candidato de centro-direita e próximo aos mercados. Kuczynski suscita outro tipo de associação, aproximando-se mais da imagem do presidente argentino recémeleito, Mauricio Macri, que, com sucesso, vem reorganizando as contas do país, após mais de uma década de caos gerado pelo kirchnerismo. Analistas estimam que se Kuczynski conseguir transformar as eleições num referendo sobre uma possível volta ao fujimorismo, certamente será eleito.

Oriundo da esquerda, Humala ecoou a retórica bolivariana, mas, como evitou aventuras na economia, conseguiu escapar ao infortúnio de seus vizinhos ideologicamente próximos. E os candidatos que pretendem suceder a ele prometem seguir a mesma trilha. Nesse sentido, o Peru é exemplar de uma realidade que se impõe à América Latina: a do crescimento sustentável. Não é mera coincidência que esteja em baixa o populismo que vigorou no continente nas últimas décadas — e hoje enfrenta graves crises institucionais, políticas, econômicas e sociais. O ciclo das aventuras inconsequentes chega ao fim.