O globo, n. 30.208, 21/04/2016. País, p. 5

STF inclui na Lava-Jato delação de Delcídio que envolve Dilma

Presidente é suspeita de interferir em nomeação de Cerveró

O STF incluiu em inquérito da Lava-Jato trechos da delação do senador Delcídio Amaral que citam Dilma, Lula e Temer. -BRASÍLIA- O ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a inclusão de trechos da delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) no inquérito que investiga a quadrilha que desviou recursos na Petrobras. Nesses trechos, há citações à presidente Dilma Rousseff, ao vice Michel Temer, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a parlamentares.

ANDRÉ COELHO/10-2-2015Decisão. Relator da Lava-Jato no STF, Teori autorizou inclusão de trechos da delação de Delcídio

A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), foram juntados ao inquérito os termos de colaboração números 2, 13, 19, 20 e 21 de Delcídio ao maior inquérito da Operação Lava-Jato no STF, com 39 réus. O termo número 2 é o que contém mais citações e trata da possível ingerência de Dilma na nomeação de Nestor Cerveró para uma diretoria na BR Distritbuidora. TEMER TERIA APADRINHADO LOBISTA Cerveró, que havia sido diretor da Área Internacional da Petrobras, também é investigado e firmou acordo de delação premiada. Dilma nega ter participado da nomeação, mas o senador citou telefonemas dela sobre o assunto.

Delcídio relata que estava em Salvador, onde recebeu uma ligação de Dilma, então ministra da Casa Civil, questionando se Cerveró seria indicado para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora. Delcídio respondeu não saber e, horas depois, Dilma lhe retornou para informar que ele seria indicado.

O senador diz acreditar que esse foi um prêmio de consolação pela atuação de Cerveró no caso da sonda Vitória 10.000. O contrato da sonda ficou com o grupo Schahin, que, com isso, considerou quitado um empréstimo feito pelo PT. O empréstimo destinado a pagar o empresário Ronan Maria Pinto, que estaria chantageando o PT com informações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002.

Ainda no termo número 2, Delcídio cita cargos ocupados por indicados pelo PMDB. Segundo ele, após o escândalo do mensalão, o partido aproveitou a fragilidade do governo Lula para fazer nomeações.

No termo número 13, Delcídio diz que Temer era “muito ligado” a João Augusto Henriques, lobista preso em setembro de 2015 na 19ª fase da Lava-Jato. Henriques é suspeito de operar o recebimento de propina para o PMDB. Ele foi diretor na BR entre 1998 e 2000; uma de suas atribuições era a compra de etanol, o que levava a uma “relação estreita” com usineiros. “Em 2007 ou 2008”, segundo Delcídio, Henriques foi cotado para dirigir a Área Internacional da Petrobras “com o apadrinhamento de Michel Temer e da bancada do PMDB na Câmara”.

A então ministra Dilma vetou o nome de Henriques, segundo a delação, e Jorge Zelada, também ligado ao PMDB, foi nomeado diretor. Zelada foi preso na Lava-Jato suspeito de operar o esquema de propina. Quando a delação de Delcídio se tornou pública, em março, Temer informou, por sua assessoria, que nunca apadrinhou Henriques e que a indicação foi feita pela bancada do PMDB na Câmara, assim como a de Zelada.