Correio braziliense, n. 19318, 16/04/2015. Política, p. 2

Batalha na tribuna antes da votação

CRISE NA REPÚBLICA - Discussão sobre o impeachment de Dilma na Câmara entra no segundo dia com os adversários da petista confiantes na vitória e com o que sobrou da base aliada na tentativa de virar o jogo. Sessão definitiva está marcada para começar às 14h de domingo
Por: EDUARDO MILITÃO E JÚLIA CHAIB

EDUARDO MILITÃO

JÚLIA CHAIB

 

O processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff entra hoje em mais um dia de longos debates no plenário da Câmara. Os discursos na tribuna serão ininterruptos. Os parlamentares devem adentrar a noite de sábado e amanhecer o domingo com debates entre os favoráveis e os contrários à cassação da petista, acusada de crime de responsabilidade por ter cometido as chamadas “pedaladas fiscais” em 2015 e de ter aberto seis créditos extraordinários no ano passado sem autorização do Congresso.

Ontem, quando a Executiva do PP fechou questão a favor do impeachment e ameaçou punir parlamentares que votassem a favor da presidente, a discussão na Câmara começou com a defesa do mandato dela pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. O jurista Miguel Reale Júnior foi à tribuna e disse ser necessário depor Dilma do cargo. A partir daí, cada um dos 25 partidos ganhou o tempo de uma hora para expor suas posições na tribuna. A discussão do tempo partidário só deve terminar na tarde de hoje, entre 14h e 17h, começando as falas dos deputados em seguida. No domingo, os discursos devem terminar por volta das 9h. Às 14h, o processo recomeça com a leitura do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO), as falas dos líderes partidários e a votação nominal de cada um dos 513 deputados.

O grupo de parlamentares anti-Dilma do PP conseguiu convencer a Executiva do partido a aprovar uma resolução para fechar questão a favor da cassação da presidente. Todos os deputados deverão votar contra a petista. Segundo o deputado Jerônimo Goergen (RS), quem se ausentar da sessão de domingo ou apoiar Dilma vai responder a processo no Conselho de Ética.

Contrariado, o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), saiu da reunião ontem, no Senado, sem conversar com a imprensa. Mas Goergen disse que ele se comprometeu a votar a favor do impeachment se a Câmara aprovar o pedido. De acordo com o relato do deputado, ele e o ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PB) foram honestos ao explicar porque trabalharam para o partido se manter fiel ao Palácio do Planalto. No entanto, ambos reiteraram que cumprirão a determinação partidária de votar pela cassação de Dilma.

Para se manter alinhado com a maior parte do PSD, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, pediu demissão ontem. Ele foi entregar pessoalmente a carta ao chefe de gabinete de Dilma, Jaques Wagner. A decisão ocorre dias depois de reunião em que o ex-ministro liberou a bancada para votar como quisesse no impeachment. Em resposta, os parlamentares não obrigaram o cacique do PSD a decidir se ficava ou não no governo.

 

Guerra de cálculos

O deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE) reforçou ontem estar seguro de que a oposição tem votos suficientes para aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Presidente do comitê pró-impeachment, formado por parlamentares oposicionistas e dissidentes, Mendonça divulgou o balanço de 367 votos a favor do processo, 129 contra e 17 indecisos. São necessários 342 para o processo contra Dilma continuar. “Estamos crescendo todos os dias. Significa que a posição do parlamento se consolida pela aprovação do impeachment. O governo está jogando pesado, mas vamos desarmar e ganhar”, disse. Segundo ele, o governo tem trabalhado para fazer com que deputados faltem a sessão.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) faz uma conta diferente. Ele afirmou que a base tem de 180 a 195 “votos firmes” contra a cassação de Dilma — ou seja, a oposição atingiria 333 votos no máximo. O petista avaliou que ainda era possível conquistar o apoio de mais 10 ou 15 parlamentares. A base aliada ainda trabalha com a possibilidade de parlamentares faltarem à sessão, ainda que aleguem problemas de saúde, e no desconforto de parlamentares independentes. Eles fazem oposição ao governo, mas também ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Por isso, avaliam argumentar que não votarão contra o impeachment, mas também não apoiarão um processo de cassação conduzido pelo deputado réu por corrupção passiva na Operação Lava-Jato.

Aliados de Eduardo Cunha e inimigos do PT se refestelaram na tribuna. Um deles, Laerte Bessa (PMDB-DF), elogiou a postura do colega de abrir o processo de impeachment ao aceitar o pedido de cassação feito pelos juristas Miguel Reale, Janaína Paschoal e Hélio Bicudo. “Se não fosse esse presidente, que nos deu essa independência, que bancasse esse impeachment, que nos livrasse dessa bandida chamada Dilma, não íamos tirar o PT da nossa vida”, avaliou o deputado. Ele elogia um futuro governo de Michel Temer (PMDB), vice-presidente que trabalha para derrubar a petista e assumir o Planalto. “Temos um homem íntegro para comandar o país”, garantiu Bessa.

 

Frase

“Estamos crescendo todos os dias. Significa que a posição do parlamento se consolida pela aprovação do impeachment”

Mendonça Filho (DEM-PE), deputado federal

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