O Estado de São Paulo, n. 44747, 22/04/2016. Política, p. A4

CLASSIFICAR IMPEACHMENT COMO GOLPE PREJUDICA IMAGEM DO PAÍS, DIZ TEMER

Vice-presidente faz contraofensiva na imprensa internacional para contrapor a versão da presidente Dilma que será apresentada hoje em Nova York sobre o seu afastamento; ‘É um processo constitucional’, afirmou o peemedebista, que assumiu o comando do País interinamente
Por: Adriano Ceolin / Tânia Monteiro

 

Adriano Ceolin

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

 

O vice-presidente Michel Temer lançou ontem uma contraofensiva na imprensa internacional para se contrapor à versão da presidente Dilma Rousseff de que o processo de impeachment representa um golpe em curso no País. Dilma desembarcou à noite em Nova York, onde hoje pretende usar a tribuna das Nações Unidas para desqualificar o processo de afastamento do qual ela é alvo.

Antevendo a ação da presidente, Temer seguiu ontem de São Paulo para Brasília para assumir o comando do País interinamente e rechaçar a versão de que lidera um movimento golpista. Antes mesmo da chegada de Dilma aos EUA, Temer promoveu sua reação. Ele concedeu uma série de entrevistas a veículos da imprensa internacional. Segundo um auxiliar, está prevista para hoje a publicação de reportagem do New York Times em que o vice deve dar sua versão sobre o impeachment. Segundo a agência de notícias Dow Jones, Temer afirmou que os procedimentos do impeachment estão em linha com a Constituição e que falar sobre golpe de Estado prejudica a imagem do País no exterior. Ao Financial Times, o vice afirmou que “não há golpe de maneira alguma ocorrendo no Brasil”.

“Vários ministros do Supremo Tribunal Federal disseram que o possível impeachment da presidente da República não representaria um golpe. É um processo constitucional”, acrescentou.

Na entrevista ao Wall Street Journal, o peemedebista ressaltou que“ cada etapa do impeachment está em conformidade com a Constituição”. Ontem, cerca de 80 manifestantes do movimento Levante Popular da Juventude fizeram um ato em frente à residência do vice, na zona oeste de São Paulo. O grupo pichou “QG do Golpe” no chão da rua.

Além de insistir em que o impeachment tem respaldo da Suprema Corte brasileira, assessores de Temer defendem que ele compare Dilma à ex-presidente da Argentina Christina Kirchner, acusada de emitir moeda para aumentar os gastos do governo. Na visão deles, Dilma teria adotado prática similar ao determinar que bancos públicos quitassem compromissos do governo sem repassar dinheiro do Tesouro – como ocorreu no pagamento do Bolsa Família.

Ontem, não havia certeza se Temer ou algum dirigente do PMDB dará declarações após o discurso de Dilma. Apesar de ele estar em Brasília, seus principais auxiliares estão fora da capital. Escalado para responder às acusações da presidente, o senador Romero Jucá ( RR), presidente em exercício do PMDB, participa de um evento com empresários em Foz do Iguaçu (PR).

A equipe do vice-presidente tem buscado se antecipar a possíveis medidas de Dilma. Chegou ao conhecimento do núcleo duro de Temer uma suposta ação do governo brasileiro na União das Nações Sul- Americanas ( Unasul) para aprovar a aplicação de uma cláusula democrática contra o País no sábado. Pelo roteiro informado à cúpula do PMDB, a ideia contaria com a ajuda dos presidentes Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, e Nicolás Maduro, da Venezuela. De fato, foi marcada uma reunião da Unasul para o sábado. No entanto, o encontro está esvaziado por causa da presença de vários presidentes e seus ministros no encontro das Nações Unidas.

A ida de Dilma à ONU tem como finalidade a assinatura de um acordo sobre mudanças climáticas. A presidente, no entanto, resolveu aproveitar a oportunidade para ressaltar a versão fora do País de que seu impeachment não tem legalidade. No texto preparado por sua assessoria, palavras como “golpe” não aparecem.Conforme o Estado apurou, a ideia é sugerir que a“ democracia brasileira está sendo ameaçada”. A previsão é que ela fale por três minutos.

Em Nova York, Dilma planeja dar entrevistas a veículos americanos e de outros países.

 

Chegada. Cerca de 40 brasileiros contrários ao impeachment receberam Dilma ontem em Nova York aos gritos de “não vai ter golpe”. A presidente chegou às 21h (22h, horário de Brasília) à residência oficial do embaixador do Brasil na ONU, Antonio Patriota, onde está hospedada. Quando chegou ao edifício na rua 79, Dilma caminhou na direção dos manifestantes e cumprimentou alguns deles. Os brasileiros aguardaram a presidente com flores, cartazes em defesa da democracia e batucada. / COLABOROU CLÁUDIA TREVISAN

 

Ofensiva

“Cada etapa do impeachment está em conformidade com a Constituição”

Michel Temer

VICE-PRESIDENTE

 

A SEMANA APÓS A VOTAÇÃO NA CÂMARA

1. Pós-votação

Na segunda-feira Dilma se disse injustiçada e acusou Temer de ‘conspirar’ contra ela.

 

2. ‘Golpe’

Na terça, a jornalistas estrangeiros, Dilma afirmou que é ‘vítima de um golpe’.

 

3. Ministros do Supremo

Celso de Mello, Dias Toffoli e Gilmar Mendes criticaram, na quarta, discurso do ‘golpe’.

 

4. Vice

Temer disse ontem a que falar sobre golpe de Estado prejudica imagem do País no exterior.

 

5. Nova York

Nos EUA, Dilma deve insistir na tese de que que há um golpe em curso no País.