Correio braziliense, n. 19305, 03/04/2016. Política, p. 3

Oferta de cargos está a todo o vapor

Juliana Cipriani

A poucos dias da votação na Câmara dos Deputados que definirá sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a alternativa do Palácio do Planalto para tentar conseguir os 172 votos que podem barrar o processo já no nascedouro foi recorrer à velha prática da oferta de cargos. E, com o desembarque do PMDB da base na semana passada, o governo tem muito a oferecer. O partido, que era o principal aliado da petista, tinha sete ministérios que estão sendo usados para tentar atrair os votos do PP, PR, PSD e até de deputados do baixo clero.

Quem está cuidando das costuras é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), funcionário informal do governo, já que sua nomeação como ministro-chefe da Casa Civil está suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Trocar cargos ou favores por votos é uma prática tão antiga quanto a República brasileira. O escancaramento da política do toma lá dá cá é entendido por especialistas como um reflexo da pulverização partidária no Brasil, que faz os mandatários precisarem correr atrás de apoio para construir maiorias no Legislativo, ao mesmo tempo em que deixa as legendas menos fortes e ideológicas.

O ex-presidente Fernando Collor de Melo, agora no PTC — ele deixou o PTB porque o comando da legenda quer o afastamento de Dilma —, também assediou parlamentares com a oferta de cargos e favores em troca de votos que evitassem o seu impeachment. Não conseguiu. A Câmara deu 441 votos favoráveis e 38 contrários à abertura do seu processo e ele acabou afastado. Hoje, Dilma tem suas principais investidas no PP e no PR. O PMDB, que a abandonou, tem 68 deputados. Dos sete ministros, apenas um saiu e os outros seis falam em se licenciar do partido para continuar. O interesse de Dilma é manter somente aqueles que possam conseguir votos a favor dela.

 

Porteira fechada

O cargo do ministro da Saúde, por exemplo, já foi oferecido ao PP, e o indicado para substituir o peemedebista Marcelo Castro é o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR). Ele, no entanto, nega ter sido procurado. “Vi na imprensa, mas foi só isso”, diz. Sobre a posição da legenda, que ficou de decidir se permanece ou sai do governo somente depois da apresentação da defesa da presidente Dilma e da definição da comissão do impeachment, Barros disse que só as lideranças poderiam falar. Sobre seu desejo pessoal, o parlamentar disse que vai “acompanhar o partido”. Questionado se aceitaria ocupar um ministério de Dilma caso fosse convidado, Ricardo Barros respondeu: “Em política, não tem ‘se’”.

Da ala favorável ao impeachment no PP, a senadora Ana Amélia (RS) garante que não será fácil para Dilma levar a bancada de porteira fechada. Os seis votos do Rio Grande do Sul, por exemplo, serão pelo impeachment. “Tem 20 deputados que assinaram a petição para discutir a saída do governo. Pressupõe-se que eles sejam favoráveis (ao impeachment). Os outros, não sei dizer”, afirmou. Adversária política do PT, a senadora critica o assédio do governo aos partidos e defende que o PP “não se contente com migalhas”.

 

68

 

Quantidade de deputados que têm o PMDB, que rompeu a aliança com Dilma na última terça-feira.