Correio braziliense, n. 19303, 01/04/2016. Política, p. 2

Ato em favor de Dilma ocupa a Esplanada

No maior ato pró-Dilma já realizado em Brasília, o Partido dos Trabalhadores, apoiado pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, por entidades sindicais e movimentos sociais, reuniu ontem pelo menos 50 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, especialmente em frente ao Congresso. Os dados são da Polícia Militar. A data coincidiu com os 52 anos do Golpe de 1964, quando o regime militar destituiu o então presidente, João Goulart, dando início à ditadura no Brasil.

Políticos do PT e de legendas contrárias à destituição de Dilma participaram do ato. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aguardado no evento — organizado pela CUT que fretou 700 ônibus e pagou a alimentação de manifestantes —, só se fez presente por meio de um áudio transmitido por um carro de som. Dias depois de anunciar o descolamento do governo e se ver às voltas com seis ministros do partido que insistem em contrariar a determinação e permanecem nos cargos, o PMDB, por meio de lideranças nacionais, também foi alvo das críticas. Manifestações semelhantes se repetiram em outras capitais.

O ato de apoio ao governo se repetiu em algumas cidades no exterior, como Berlim (Alemanha), Lisboa (Portugal), Londres (Inglaterra) e Paris (França). Em Brasília, a expectativa da Jornada Nacional em Defesa da Democracia era reunir 150 mil pessoas. De acordo com os organizadores, esse número teria chegado a 200 mil — quatro vezes mais do que o registrado pela PM, que manteve 870 policiais e 206 bombeiros na região central da cidade. Na alameda dos estados, em frente ao Congresso, se concentrou um carro de som, no qual lideranças e políticas discursavam contra o que consideram um golpe à democracia contra o povo e a Constituição.

Parlamentares petistas, como o senador Humberto Costa (PE), e os deputados do PSol Jean Wyllys (RJ) e Luísa Erundina (SP) participaram do protesto governista. Do DF, o distrital Chico Vigilante (PT) também compareceu. Até quem andava sumido passou por lá. Processado por improbidade administrativa e acusado de deixar um rombo nos cofres do Governo do Distrito Federal, o ex-governador Agnelo Queiroz, que passou uma temporada fora do país depois de perder a reeleição, caminhou pela Esplanada e chegou a tirar fotos com cidadãos. Artistas que estiveram no Palácio do Planalto mais cedo em uma solenidade com a presidente Dilma, como a atriz Letícia Sabatella e o cartunista Ziraldo, discursaram contra o impeachment.

 

Canções

Logo pela manhã, um grupo se reuniu em frente à sede do Banco Central, no Setor Bancário Sul. Pouco depois, manifestantes de diversos estados começaram a chegar de ônibus e se alojar no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha. Por volta das 17h, eles a desceram a Esplanada dos Ministérios rumo ao Congresso, o que paralisou o trânsito na região central da cidade. Com faixas de apoio a Dilma, a Lula e contra os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o vice-presidente da República, Michel Temer, e o juiz responsável pela Operação Lava-Jato, Sérgio Moro.

Entoando canções de artistas nacionais, como Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, manifestantes se emocionavam e gritavam palavras de ordem pró-Dilma, pela democracia e contra o “golpe”. Apresentações musicais e o estouro de fogos de artifício marcaram alguns momentos do evento. A todo momento, o processo de impeachment da presidente da República, em análise na Câmara dos Deputados, era tratado como uma ação golpista de tomada do poder por grupos de direita.

No trajeto rumo à Esplanada, os manifestantes eram recebidos com aplausos e o apoio de hóspedes do Setor Hoteleiro Sul. Xingamentos e atitudes de reprovação também foram presenciados pela equipe do Correio, que eram revidados, porém sem nenhum conflito.

 

Ainda no estádio, entidades, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Movimento dos Sem-Terra (MST), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura e sindicatos filiados à CUT, foram identificadas. O clima era de harmonia e muitas crianças acabaram levadas à manifestação. Por volta das 21h30, o grupo já começava a se dispersar e muita gente ia embora.