Correio braziliense, n. 19303, 01/04/2016. Política, p. 4
Festa de cores e da diversidade
Os mais de 50 mil manifestantes que ocuparam a Esplanada dos Ministérios ontem se concentraram em frente ao Mané Garrincha desde o início da manhã. Pessoas de todos os estados do país participaram da marcha, com camisetas, bandeiras e faixas de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff. Em tendas montadas no estacionamento do estádio e nos trios que guiaram a manifestação, gritos de ordem como “não vai ter golpe, vai ter luta” e “Fora Cunha” foram evocados em coro.
Pouco antes das 17h, os manifestantes iniciaram o percurso de cerca de 5km até o Congresso Nacional, onde a marcha se concentrou no começo da noite. Artistas de frevo, funk e MPB participaram do ato. Em frente ao Congresso, músicas que marcaram a ditadura militar emocionaram alguns manifestantes, que não contiveram as lágrimas.
Militantes contra a homofobia, a intolerância religiosa e o machismo também estiveram presentes. Estacionado em frente ao Museu Nacional, um pequeno carro de som trazia faixas com frases como “Mais amor: contra a intolerância religiosa” e “Contra o extermínio”. Vestidos com camisas estampadas com o rosto de Dilma Rousseff, eles bradavam a favor da presidente. “Estamos aqui para protestar contra o impeachment”, disse religioso Babalorixá Babazinho.
Um trio elétrico com cartazes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) tocou funk com letras que condenavam o machismo e pediam liberdade. “No meu país eu boto fé porque ele é governado por mulher”, cantavam os seguidores. Sentada ao lado do carro de som, a estudante de psicologia Liliane Martins, 35, descansava as pernas e a voz. Ela e outras 80 pessoas viajaram 12 horas de Divinópolis (MG) até Brasília. “Essa briga é muito mais social do que política”, avaliou. “Infelizmente, a esquerda e a direita estão perdendo poder. Eu acredito na legitimidade do meu voto”, apontou.
O gestor público Saulo Dias, 29 anos, morador de São Sebastião, aproveitou a mobilização para vender camisetas com imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Integrante do movimento juventude negra, ele disse ser “contra o golpe”. A agricultora Maria Lúcia de Cristo, 53, de Simonésia (MG), também criticou o processo de impeachment. “Esse país se diz democrático e tem uma legislação pra ser cumprida”, defendeu.
Acompanhada por um grupo de cerca de 500 professores da rede estadual, a docente Marisa Costa Konig, 54, encarou uma viagem de 36 horas de Palmeira das Missões (RS) até Brasília. Crítica ao PMDB, ela disse que o partido “se expôs” à população brasileira. “Eles (oposição) têm a intenção de tirar a presidente para evitar o avanço das investigações da Lava-Jato contra a corrupção”, opinou.
Em meio à multidão vestida de vermelho, o estudante uruguaio Rodrigo Ferreira, 27, e o chileno Armando Uribe, 20, balançavam as bandeiras de seus países. Eles saíram de Foz do Iguaçu (PR), onde frequentam a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), para se juntarem aos brasileiros. “Estudamos no Brasil, acompanhamos o que está acontecendo. Democracia é um direito”, disse Uribe.
Confusão
Um ônibus executivo que levava manifestantes para o protesto bateu no carro da jornalista Priscila Vasconcelos, 36, na Asa Norte. Segundo ela, dois motoristas e alguns passageiros desceram do ônibus, começaram a xingá-la de “coxinha” e “piranha” e balançaram o carro, ameaçando agredi-la. Duas testemunhas que passavam pelo local confirmaram a versão da jornalista. “Vi a vítima sendo cercada por alguns homens. Parei ao lado e ela me pediu ajuda”, disse o advogado Fabiano Villar, 29.
O chef de cozinha Magiel Costa, 28, também acompanhou a confusão e comentou que a mulher estava “desesperada”, tentando se defender. “São muito ‘machões’ esses homens. Se ninguém parasse o carro, eles iam bater nela. E os manifestantes ainda filmaram a cena”, contou.
Frase
“Eles (oposição) têm a intenção de tirar a presidente para evitar o avanço das investigações da Lava-Jato contra a corrupção”
Marisa Costa Konig, professora