Correio braziliense, n. 19303, 01/04/2016. Política, p. 6

Ministros do PMDB se recusam a sair

Naira Trindade

Julia Chaib

Paulo de Tarso Lyra

A tentativa do governo de repactuar a base aliada com partidos pequenos está emperrada pelo PMDB, que insiste em permanecer nos ministérios. Interlocutores ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que os seis ministros peemedebistas passaram o dia ontem tentando convencê-lo a mantê-los no governo em troca de conseguirem votos contrários ao impeachment. Enquanto Lula negocia cargos, o ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, aceleram as tratativas para atrair novos aliados até a votação.

Em uma das configurações da repactuação de Wagner, o PP, o PR e o PTN ficariam cada um com dois ministérios. O primeiro seria contemplado com a Saúde e a Integração Nacional. O PR, com o Ministério dos Transportes e a Agricultura — no caso da titular Kátia Abreu deixar o PMDB. O PTN ficaria com outras duas. E nanicos, como PEN, PSL, e aliados, a exemplo de PSD e PMB, ganhariam ainda mais espaço. O governo calcula que há cerca de mil cargos a negociar. E 11 partidos na base governista.

Um outro problema do xadrez é que o ministro Ricardo Berzoini encontrou-se com o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), e garantiu a ele fidelidade, de olho nos 25 a 30 votos que o peemedebista teria a oferecer. Há dois indicados da Câmara no governo: o titular da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, e da Saúde, Marcelo Castro. Já Lula teria garantido manter o apoio ao ministro da Secretaria Especial de Portos, Helder Barbalho (PA), filho do senador Jader Barbalho, que sempre contribuiu com votos na Casa. O único cargo dado como certo na disponibildiade é o do ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que deixou a pasta um dia antes de o partido debandar oficialmente.

Para atender às demandas dos partidos, o governo precisa que o PMDB entregue os cargos. Após anunciar o rompimento na última terça-feira, o partido insiste em ficar no governo. A avaliação, no entanto, é que o partido deixou de agregar votos para Dilma na Câmara. Desde o anúncio oficial da separação, o partido vem perdendo os cargos do segundo escalão, com exonerações que são publicadas diariamente no Diário Oficial da União. Ontem, saíram ao menos sete exonerações, entre elas, a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rogério Abdall — indicado por Michel Temer — e a do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Walter Gomes. Hoje, mais demissões são previstas.

As divisões internas dentro do PMDB foram explicitadas ontem. Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), demonstraram, mais uma vez, que estão em polos opostos. Para Renan, o PMDB errou. “É evidente que isso (a decisão do rompimento) precipitou reações em todas as órbitas: no PMDB, no governo, nos partidos da sustentação, nos partidos da oposição, o que significa em outras palavras, em bom português, não foi um bom movimento, um movimento inteligente.”

Eduardo Cunha foi questionado sobre as declarações de Renan. “Então, são poucos os inteligentes, a unanimidade que aclamou”, ironizou o carioca. “Não acho que foi precipitado. Do meu ponto de vista pessoal, acho que já está oito meses atrasado”, prosseguiu.

 

Intolerância

 

Ontem, o ministro da Comunicação, Edinho Silva, disse que os movimentos em lados opostos geraram um clima intolerância profundo que não está no auge e disse que é preciso “reunificar” o país. “Vamos fazer isso ou vamos esperar o primeiro cadáver ou primeiro enterro. É isso que vamos esperar? Porque vai ter”, disse.