Correio braziliense, n. 19303, 01/04/2016. Política, p. 6

PF indicia Gleisi e o marido

Eduardo Militão

A Polícia Federal conclui investigação na qual a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e seu marido, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, são acusados de receberem R$ 1 milhão para a campanha da parlamentar de 2010 desviados da Petrobras. Os policiais indiciaram o casal por corrupção passiva.

De acordo com o doleiro Alberto Youssef, o dinheiro foi entregue a Ernesto Kugler Rodrigues, doador de campanhas do partido no Paraná. A assessoria de Gleisi negou as acusações e apontou contradições nos depoimentos.

Em depoimento, o doleiro disse que foi contatado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que o informou que, a pedido de Paulo Bernardo, seria procurado para fazer um repasse de dinheiro para a campanha da senadora em 2010. Os valores sairiam do esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. Paulo Roberto confirma a narrativa de Youssef.

Conforme a indicação, uma pessoa de Curitiba procurou Youssef e combinou com ele para que fizesse os pagamentos, que ocorreram em “três ou quatro operações”. Os valores foram entregues no escritório de administração de um shopping em Curitiba. Quem recebeu o dinheiro foi, segundo o doleiro, o dono do estabelecimento, Ernesto Kugler Rodrigues. “Pareceu uma pessoa com bastante afinidade com Gleisi Hoffman e Paulo Bernardo”, disse.

Ouvido pela PF, Kugler negou conhecer o doleiro, ter mantido contato com ele ou recebido valores. Ele disse que conhece Paulo Bernardo há mais de 10 anos, mas tinha poucas relações com Gleisi. Kugler disse, em campanhas eleitorais anteriores, que não arrecadava dinheiro, mas apenas apresentava “amigos empresários” a Bernardo. “Nunca obteve de Alberto Youssef, ou de emissário dele, algum valor destinado à campanha de Gleisi”, disse o empresário à polícia.

 

A assessoria de Gleisi afirmou ontem que “todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor” pela senadora ou por seu marido. “São inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais, nada menos, do que cinco versões diferentes para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram.”