Correio braziliense, n. 19303, 01/04/2016. Brasil, p. 8

Na Sé, sob a chuva. No Rio, apoio de Chico

As duas maiores cidades do país levaram cerca de 100 mil pessoas às ruas, segundo os organizadores, em apoio à democracia e contra o impeachment. Apoiadores do governo não pouparam críticas a Eduardo Cunha

O temporal que caiu na região da Praça da Sé, em São Paulo, no início da noite de ontem, não foi suficiente para demover os manifestantes que apoiam a permanência da presidente Dilma Rousseff no governo. De acordo com os organizadores do ato, entre 30 e 50 mil pessoas foram às ruas com cartazes, bandeiras, balões e muita disposição para defender a petista. A Polícia Militar de São Paulo calculou em 18 mil o número de participantes. A manifestação foi batizada de “Em defesa da democracia, golpe nunca mais” e terminou às 20h30, com os participantes cantando o Hino Nacional. O movimento continuou com com shows de funk e forró.  Em 25 capitais e no Distrito Federal, manifestantes gritaram palavras de ordem em defesa do governo e contra o impeachment.

Personagem central das manifestações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ao ato, organizado pela Frente Brasil Popular, que reúne diversos movimentos sociais, partidos de esquerda, artistas, professores, sindicalistas. Em um vídeo postado nas redes sociais, o ex-presidente disse ter certeza de que “essa energia nova, que vem do coração do Brasil, vai dar o impulso necessário para o País vencer a crise e retomar o caminho do desenvolvimento.” A assessoria do ex-presidente não explicou o motivo pelo qual ele não participou do ato. O presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, foi a maior autoridade do partido presente ao ato.

Escolhido para falar pela legenda, o presidente do diretório estadual do PT, Emídio de Souza, chamou de “golpista”, o vice-presidente Michel Temer. Mais elegante, Falcão também alfinetou o peemedebista lembrando que ele foi eleito “na nossa chapa, com nosso programa”. E lamentou que o vice-presidente “participe, agora, de um impeachment sem base legal. Isso tem nome. É golpe”, afirmou.

Os apoiadores do governo começaram a chegar à concentração por volta das 15h, vestidos principalmente com camisetas vermelhas, levando faixas e cartazes com palavras de ordem, além de balões e bandeiras de entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Um deles, da Petrobras, estava escrito “Não estamos à venda”. Um dos coordenadores do MST, Gilmar Mauro, declarou que caso ocorra o impeachment da presidente Dilma, os movimentos “não darão um dia de sossego a Michel Temer”, mas acredita que o impedimento “não acontecerá.”

 

Sem golpe

No Rio de Janeiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi um dos principais alvos dos manifestantes. Com gritos, cartazes e faixas de “Fora, Cunha”, representantes de movimentos sociais organizados pela Frente Brasil Popular ocuparam o palanque e fizeram discursos em defesa do governo.

Diversos artistas, entre eles o cantor e compositor Chico Buarque de Holanda subiram ao palco montado para prestar apoio á presidente Dilma. O cantor finalizou o discurso dizendo que “não vai ter golpe” e foi ovacionado por gritos de “Chico, guerreiro do povo brasileiro.” O cantor explicou que compareceu ao ato por apoiar a presidente Dilma e acreditar na sua integridade. “Eu vim aqui dar um abraço nas pessoas das mais variadas tribos, das mais variadas convicções políticas. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT, que se desiludiu com o partido, gente que votou na Dilma, mas, sobretudo, gente que não pode pôr em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff.”

A manifestação, que levou 50 mil pessoas — segundo os organizadores, ao Largo da Carioca também lembrou as vítimas da ditadura militar e os 52 anos do golpe com um minuto de silêncio. Em seguida, os carros de som passaram a tocar músicas e foram feitas apresentações culturais. A Polícia Militar não estimou o número de manifestantes.

 

Nas primeiras horas da manhã de ontem a sede administrativa da Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro (Firjan) foi pichada com as frases “Dilma fica” e Firjan golpista”. Imagens do sistema de segurança mostram cinco pessoas atirando sacos de tinta na fachada do prédio, que fica no centro do Rio. No mês passado, o presidente da entidade, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, havia declarado o seu apoio à saída da presidente Dilma. A Firjan divulgou nota condenando o que chamou de ataque e afirmando que “o vandalismo e as agressões devem ser punidos, venham de onde vierem.”