O Estado de São Paulo, n. 44754, 29/04/2016. Política, p. A8

Dilma participará de ato da CUT no 1º de Maio

Presidente deve anunciar reajuste de cerca de 5% no Bolsa Família e outras ‘bondades’ para se antecipar a eventuais medidas de Temer
Por: Vera Rosa / Murilo Rodrigues Alves /Tânia Monteiro

 

Vera Rosa

Murilo Rodrigues Alves

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

 

Convencida de que o governo não tem votos para derrotar o impeachment na primeira votação no Senado, a presidente Dilma Rousseff quer aproveitar o Dia do Trabalho, em 1.º de Maio, para anunciar medidas de impacto, como o reajuste nos benefícios do programa Bolsa Família. A presidente vai participar na data do ato organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Embora o índice ainda não esteja fechado, auxiliares da presidente dizem, no Palácio do Planalto, que o aumento será na faixa de 5%. Com o rombo nas contas públicas, porém, o porcentual não vai ser linear. Haverá escalonamento por faixa de beneficiários, com prioridade para os mais pobres. A margem do Orçamento para o reajuste é de R$ 1 bilhão, mas o secretário do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira, sustenta que o “espaço fiscal atual não permite essa ampliação”.

O Bolsa Família é o novo capítulo da guerra entre Dilma e o vice-presidente Michel Temer. Na contraofensiva aos rumores de que acabará com os programas sociais, Temer avisou que a plataforma do PMDB vai aprimorar as principais vitrines do governo petista. A meta é elevar o padrão de vida dos 5% mais pobres, que correspondem a 10 milhões de pessoas, com reajustes diferentes para os vários grupos que recebem o benefício.

Diante dos planos de Temer, Dilma deixou de lado as ponderações da equipe econômica de que seria melhor aguardar a revisão da meta de superávit para anunciar o reajuste e pediu aos auxiliares que refizessem as contas e encontrassem uma saída para a concessão do aumento. A intenção de Dilma é divulgar “bondades” no ato em São Paulo. Na prática, a presidente não quer deixar nenhum legado do governo petista para Temer “faturar”.

O PT, a CUT e movimentos sociais abrigados na Frente Brasil Popular prometem transformar o 1.º de Maio do Anhangabaú num ato em defesa de Dilma e contra o “golpe”. O assunto foi um dos temas tratados ontem em reunião entre a presidente, Lula e ministros, no Palácio da Alvorada.

 

Imposto de Renda. Dilma também foi aconselhada a conceder um porcentual de correção da tabela do Imposto de Renda, para compensar a inflação acumulada. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse não haver recursos para isso. Em conversa com Barbosa no Alvorada, ontem, ela pediu que a Fazenda se debruce sobre esses números. É possível que a presidente faça um pronunciamento pelas redes sociais, nos mesmos moldes do que fez às vésperas da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados. A dúvida, porém, é como ela tratará da questão do emprego, que está em queda, justamente no Dia do Trabalho.

Apesar do desânimo no Planalto, Dilma programou uma agenda frenética para ser cumprida nos próximos dias. O governo não quer deixar para Temer o lançamento de projetos que estão em fase de conclusão e mandou acelerar até o que estava previsto para o segundo semestre. Na manhã de hoje, por exemplo, será anunciada a extensão do Mais Médicos, com prorrogação da permanência dos profissionais estrangeiros no Brasil por mais três anos.

 

Campo. Em meio à disputa entre forças pela posição de quem pode oferecer mais benefícios sociais à população, Dilma reuniu- se ontem com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch. Ele deu seu primeiro disparo contra a incerteza no contexto da manutenção dos direitos dos trabalhadores rurais, por exemplo.

“Mexer na aposentadoria de um trabalhador rural que ganha um salário mínimo? Vocês acham que nós vamos aceitar isso?”, perguntou Broch. “Não vamos aceitar isso. Mexer nos direitos de um trabalhador rural, onde mais de 60% estão na informalidade e (levando em conta que) nós não temos poder de negociar com o patronato? A nossa garantia é a legislação.” Broch garantiu que os trabalhadores rurais estão preparados para manter os direitos e ampliá-los. “Vamos lutar muito para que não tenha retrocesso nos direitos, seja no governo Dilma, seja no próximo.”

 

Perguntas

Mexer na aposentadoria de um trabalhador rural que ganha um salário mínimo? Vocês acham que nós vamos aceitar isso? Vamos lutar muito para que não tenha retrocesso”

Alberto Broch

PRESIDENTE DA CONTAG