Correio braziliense, n. 19306, 04/04/2016. Política, p. 3

O xadrez da distribuição de cargos

Paulo de Tarso Lyra

Julia Chaib

Naira Trindade

Hédio Ferreira Junior

 

Enquanto faz e refaz as contas dos votos favoráveis e contrários ao impeachment na comissão especial criada na Câmara para analisar a matéria, o Planalto debruça-se sobre o complexo xadrez de cargos disponíveis para os aliados que forem fiéis à permanência de Dilma Rousseff no cargo até 31 de dezembro de 2018. Com a insistência de seis dos sete ministros do PMDB de permanecer exatamente onde estão — apenas Henrique Eduardo Alves entregou o cargo, o que poderia abrir espaço para o PTN —, o governo deixará para esta semana a definição sobre como contemplar os salvadores de Dilma Rousseff.

O governo também terá de administrar vaidades. O ministro Marcelo Castro foi informado por um deputado do PP que, durante reunião dos parlamentares da legenda com o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), o Ministério da Saúde já era tido como a pasta certa a ser assumida pelos pepistas. Castro não gostou nada da notícia e sentiu-se traído, já que, afinal, “deu a cara a tapa” na campanha contra o zika vírus. Mesmo assim, ele está em desvantagem. Hoje é mais fácil a permanência de Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia, como uma forma de assegurar os votos de 25 a 30 deputados peemedebistas ligados ao líder da bancada, Leonardo Picciani (PMDB-RJ).

O chefe do gabinete pessoal da Presidência da República, Jaques Wagner, é um dos defensores da tática do “rei morto, rei posto”. Ele teve que enfrentar situação semelhante quando o PMDB baiano — coincidentemente comandado por Geddel Vieira Lima, autor da moção de rompimento do PMDB nacional com o governo Dilma — entregou os cargos no estado. Wagner exonerou todos os peemedebistas e recompôs a base de apoio, conseguindo concluir o mandato. “Repactuar o governo é reorganizar a base de apoio. Nada a ver com compra de votos. Trata-se de ocupar os espaços vazios com novos partidos que ainda não tiveram oportunidade de ter cargo no primeiro escalão”, defende o ministro.

As maiores legendas têm posturas e abordagem diferentes diante deste momento. Lideranças do PR defendem que, neste momento, não cabe a oferta de cargos, embora o partido possa ser beneficiado com o Ministério da Agricultura, caso prospere a oferta para Kátia Abreu deixar o PMDB e filiar-se ao PR. “É melhor conversar isso depois, para deixar a bancada livre para se decidir”, defendeu o líder Maurício Quintela Lessa.

 

Já o PP, terceira maior bancada da Câmara, ainda vai reunir a bancada e a Executiva do partido para definir a posição. Mas, diante da possibilidade de assumir o Ministério da Saúde — maior orçamento da Esplanada e que poderá ser oferecido a Ricardo Barros (PR) —, os caciques pepistas defendem que as ofertas de cargos ocorrem antes da votação. “Ou o governo acha que somos fiéis, ou não acha”, justificou uma liderança partidária. No caso do PSD, o Planalto sinalizou, neste primeiro momento, a solução de pendências regionais que já existiam antes da crise. “É uma boa maneira de distensionar a relação”, reconheceu um integrante da legenda.

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Os rumos do PMDB

 

O PMDB está em campanha dentro do próprio partido para convencer filiados sobre o desembarque do governo e a acreditar no impeachment. O deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), aliado do vice-presidente Michel Temer, tem feito encontros com as bases peemedebistas nos Estados. No fim de semana, ele reuniu filiados no diretório de São José do Rio Preto (SP).

 

Segundo um dos participantes do encontro, Edinho teria explicado os motivos que levaram o partido ao desembarque e ainda defendeu Temer. O deputado, segundo essa fonte, teria dito que “a decisão de Michel Temer não é uma posição pessoal, mas da convenção e do Diretório Nacional do PMDB”. A fala foi uma resposta a críticas de oportunismo do vice-presidente.