O Estado de São Paulo, n. 44752, 27/04/2016. Editoriais, p. A4

PSDB JÁ NEGOCIA ADESÃO TOTAL A GOVERNO TEMER

DECISÃO NO SENADO - Tucanos querem compromisso de que PMDB não disputará eleições deste ano em cidades que partido considera prioritárias; negociações de ministérios têm de passar pela direção do PSDB
Por: Alberto Bombig / Pedro Venceslau / Igor Gadelha / Ricardo Brito

 

A direção nacional do PSDB impôs condições ao vice-presidente Michel Temer para aderir em sua totalidade a um eventual governo dele. A primeira delas é que qualquer conversa com o partido deve ocorrer em “caráter institucional”, o que significa dizer que o senador José Serra (SP) não é o único nome entre os tucanos a ser procurado pelo vice. A segunda e mais complexa é que Temer e o PMDB devem se manter distantes das eleições municipais deste ano em cidades que o PSDB considera prioridades eleitorais do partido.

Temer está disposto a conversar sobre esses pontos e, ontem mesmo, 26, o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, mudou seu discurso e disse que o partido não deverá se opor a eventuais participações de membros em um futuro governo Temer. “Se amanhã o presidente Michel optar, considerar o nome de membros do PSDB, obviamente deverá fazer isso conversando com a direção do partido, que não deverá se opor”, afirmou Aécio, após reunião de quase três horas com a bancada do partido na Câmara.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), deu declaração na mesma linha, após se reunir com Temer. “O desejo do partido é de ter uma relação institucional com o novo governo. O PSDB não quer que o PMDB faça conosco o que o PT fez com o PMDB.” Aécio também rechaçou a proposta de que tucanos que assumirem cargos em um futuro governo Temer devem se licenciar do partido, conforme revelou o Estado. A ideia foi defendida por membros do legenda, como o secretário-geral da sigla, deputado Silvio Torres (SP).

 

Eleições. Os tucanos querem o peso político de um eventual governo Temer e do PMDB fora das eleições em cidades onde os tucanos possuem boas chances neste ano, como Manaus, Fortaleza e São Paulo. Eles também buscam um compromisso em relação a 2018: Temer não disputar a reeleição e não interferir nas eleições estaduais. Essas propostas já haviam sido apontadas por Serra em entrevista ao Estado em março, mas agora foram encampadas pela direção nacional do PSDB.

Esse é o maior entrave para o acordo. O PMDB é um partido com forte tradição municipal e estadual, com a qual impulsionou na última década a ampliação das bancadas no Congresso.

 

Divisão. As declarações de Aécio foram feitas logo após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defender a participação do PSDB em um futuro governo Temer com a ocupação de cargos ministeriais, a exemplo do que ocorreu quando Itamar Franco assumiu a presidência, após o impeachment de Fernando Collor, em 1992. A posição de FHC reforçou tese de embarque total dos tucanos e pesou na resolução da bancada divulgada ontem. Aécio e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidatos do PSDB à presidência da República em 2018, se diziam contra o PSDB ocupar cargos num eventual governo Temer.

Embora tenha dito que a direção do partido não vai se opor, o presidente do PSDB sinalizou que pessoalmente continua contra o partido assumir ministérios e outros cargos na gestão do peemedebista. “Para mim, cargos são secundários”, disse, ao ser questionado se sua fala de hoje significava uma mudança de opinião pessoal. Ainda assim, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) se reuniu a sós com Temer. Ela é cotada para Secretaria Nacional de Direitos Humanos e se reuniu a sós hoje com Temer.

A bancada do PSDB do Senado também se reuniu ontem para discutir o assunto. Após a reunião, os líderes do partido no Congresso, senador Cássio Cunha Lima (PB) e deputado Antônio Imbassahy (BA) foram juntos a residência de Temer para defender que o partido dê apoio “institucional” a eventual governo do peemedebista.Na linha do que Aécio defendeu, Cássio e Imbassahy disseram a Temer que caberá a ele, caso assuma a Presidência fazer eventuais convites para filiados ao partido. / ALBERTO BOMBIG, PEDRO VENCESLAU, IGOR GADELHA, RICARDO BRITO e LEONÊNCIO NOSSA