O Estado de São Paulo, n. 44752, 27/04/2016. Política, p. A9

Movimentos cobram nova agenda social

Com afastamento iminente de Dilma, grupos aliados pedem espaço no governo, que liberou 30 demarcações de terras em menos de 1 mês
Por: Ricardo Galhardo / André Borges

 

Ricardo Galhardo

André Borges / BRASÍLIA

 

Representantes de movimentos sociais que lideram a manifestação contra o impeachment pedem à presidente Dilma Rousseff espaço no governo gerado pela saída de partidos que romperam com a petista para apoiar o processo de impedimento.

Anteontem, participaram da reunião com Dilma João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ambos integrantes da Frente Brasil Popular, e Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que integra a Frente Povo Sem Medo.

Eles apresentaram demandas pontuais das áreas de moradia, reforma agrária e trabalhista. Representantes da Frente Brasil Popular também reforçaram o pedido pela nomeação de integrantes das organizações para preencher as novas vagas.

Na semana passada tanto o PT quanto a Frente Brasil Popular divulgaram documentos nos quais pedem a Dilma que nomeie “notáveis” ou integrantes dos grupos que combateram o impeachment para o comando doa ministérios vagos.

Segundo relatos, os membros dos movimentos sugeriram que Dilma tomasse uma série de ações que teriam como objetivo garantir a unidade das entidades nesta reta final da resistência ao impeachment. Entre elas estão o reajuste do valor do Bolsa Família, a retirada de projetos enviados ao Congresso que afetam direitos dos trabalhadores, o anúncio de uma série de desapropriações agrárias e a retomada das contratações de empreendimentos do Minha Casa Minha Vida. Conforme participantes da reunião, Dilma ouviu com atenção e ficou de avaliar os pleitos. Ela foi convidada a participar do ato de 1.º de Maio, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, que contará com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Questão agrária. Na tentativa de reverter a inércia do Planalto em relação à pauta agrária, que já rendeu à presidente várias críticas dos movimentos sociais, o governo liberou, em menos de um mês, mais de 30 processos de demarcações de terras em todo o País. São terras que há anos, ou até mesmo décadas, eram requeridas por quilombolas e indígenas. Em poucas semanas, tudo foi atendido.

O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, publicou cinco portarias declaratórias, reconhecendo terras indígenas que, se somadas, ultrapassam a extensão de 12 terras que foram alvos de portarias editadas ao longo dos últimos cinco anos, sob a tutela de José Eduardo Cardoso. Na semana passada, a Fundação Nacional do Índio (Funai) publicou o reconhecimento de mais quatro terras indígenas. De uma só vez, foram demarcados 56.512 hectares. Na semana passada, uma das terras indígenas autorizadas foi a Sawré Maybu, demarcação que inviabiliza a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará. O processo de licenciamento, por conta de seu impacto a comunidades indígenas, foi suspenso pelo Ibama.