O Estado de São Paulo, n. 44751, 26/04/2016. Opinião, p. A5

FHC QUER PARTICIPAÇÃO TUCANA EM NOVA GESTÃO

DECISÃO NO SENADO - Ex-presidente fortalece posição defendida por Serra, para quem o PSDB não pode deixar Temer ‘ao relento’; partido tomará decisão no dia 3
Por: Pedro Venceslau

 

Pedro Venceslau

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse a interlocutores apoiar a entrada do PSDB em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer e a ocupação de cargos ministeriais, a exemplo do que ocorreu no governo Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor de Mello. A decisão do PSDB será definida em reunião da Executiva do partido marcada para o próximo dia 3.

A posição de FHC reforça a tese defendida pelo grupo do senador José Serra (SP), cotado para assumir uma pasta de peso. O próprio ex-presidente foi o tucano que ocupou um ministério no governo Itamar - primeiro Relações Exteriores e depois Fazenda, pasta na qual comandou a equipe criadora do Plano Real, plataforma que o credenciou a vencer a disputa pelo Planalto em 1994, após o controle da hiperinflação.

O tucano afirmou que, em função disso, a ideia de que membros do PSDB teriam de se licenciar do cargo para assumir cargos no governo Temer, defendida por uma ala da sigla, “é uma posição sem sentido”.

Ontem, no Senado, Serra afirmou, sobre o apoio do PSDB a um suposto novo governo, que o partido “não pode deixar Temer ao relento”. Para o senador, já que a sigla apoiou o impeachment da presidente Dilma Rousseff – sabendo que o vice assumiria como presidente –há o dever de ajudar para que o governo dê certo.

“Não por interesse político, mas pelos interesses do povo brasileiro, que está sofrendo a pior crise de sua história, com desemprego, perda de renda e encolhimento dos serviços sociais”, completou.

 

Divisão. A participação dos tucanos em um eventual governo Temer, porém, divide o PSDB. Enquanto Serra tem sido o principal entusiasta da ideia, sob o argumento de que a legenda, depois de atuar ativamente pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, deveria aderir ao novo governo mediante compromissos a serem assumidos pelo peemedebista.

Em outra frente, estão o também senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado na última corrida presidencial, e o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), que planeja disputar o Planalto em 2018. Ambos têm se manifestado contrários a uma entrada formal do partido no governo Temer, preferindo apenas o apoio parlamentar no Congresso.

“Eu defendo que nós temos, completando o processo de afastamento no Senado e assumindo o vice-presidente, a responsabilidade de ajudar. É preciso reformas macro, recuperar economia, emprego, confiança; é nosso dever apoiar e não precisamos nem ter pasta nem cargo para fazer isso”, afirmou Alckmin ontem em visita à Agrishow, em Ribeirão Preto. “Se vai participar com quadros no ministério, ou não, é questão menor e cabe ao partido discuti-la.”

Em uma indireta a Aécio e a Alckmin, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, disse que, nesse momento, o ano de 2018 “não pode estar no horizonte”. “O PSDB entra com tudo ou nada. Não adianta colocar meio corpo. 2018 não pode estar em nosso horizonte”, afirmou. Aliado de Serra, o deputado Jutahy Júnior (BA) segue na mesma linha. “Devemos ter agora a mesma atitude que tivemos no governo Itamar Franco. Nós devemos participar.”

 

Grupo. Em meio a essa divisão, a participação ou não em um governo Temer virou mote para a cúpula tucana criar um grupo no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp. A Executiva do PSDB é formada por 37 integrantes. A ideia é discutir argumentos favoráveis e contrários à entrada no governo até a reunião do dia 3. /COLABOROU LUÍSA MARTINS

 

Posições

“É nosso dever apoiar e não precisamos nem ter pasta nem cargo para fazer isso”

Geraldo Alckmin

GOVERNADOR DE SÃO PAULO

 

“Não pode deixar (Michel) Temer ao relento”

José Serra

SENADOR (PSDB-SP)