O Estado de São Paulo, n. 44751, 26/04/2016. Política, p. A6

GRUPO DE TEMER AVALIA DESVINCULAR BENEFÍCIOS DO MÍNIMO

Conselheiros do vice afirmam que momento é de cortar despesas e defendem a medida como forma de evitar o aumento de impostos
Por: Murilo Rodrigues Alves / Adriana Fernandes

 

Murilo Rodrigues Alves

Adriana Fernandes / BRASÍLIA

 

 

Para escapar de uma alta inevitável de impostos neste primeiro momento, o grupo que apoia o vice-presidente Michel Temer vai insistir na proposta de desvincular benefícios - incluindo os da Previdência - dos reajustes concedidos ao salário mínimo. A aprovação da medida, impopular mas necessária, segundo conselheiros do vice, seria possível graças a uma “onda” receptiva do Congresso às propostas de um eventual governo Temer para solucionar a crise brasileira.

A ideia é acabar também com as vinculações constitucionais, como gastos obrigatórios com saúde e educação, que engessam o Orçamento federal. A avaliação é que esse caminho é mais viável do que a elevação de tributos num momento de recessão da economia. Segundo os assessores de Temer, agora é hora de cortar despesas, em vez de aumentar as receitas.

A adoção dessas medidas seria uma forma de sinalizar ao mercado que eventual governo do vice estaria preocupado em resolver a questão fiscal pela via das despesas. Temer também se comprometeria a fazer uma reforma mais estruturante, dos gastos da Previdência Social.

Interlocutores de Temer reconhecem, porém, que é quase impossível resolver o rombo das contas públicas sem mexer, mais adiante, na carga tributária. O diagnóstico agora é de que a elevação de tributos aumentaria a inadimplência.

Segundo técnicos do governo, o quadro fiscal tende a piorar porque o déficit de R$ 96,6 bilhões previstos para este ano conta com recursos que não se realizarão, como CPMF e outras receitas extraordinárias.

A arrecadação com o fim da isenção da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para eletrônicos está abaixo do esperado.

A aposta para melhorar um pouco a situação fiscal continua sendo a arrecadação com repatriação de divisas. O governo espera R$ 35 bilhões, mas ainda há muita incerteza. O grupo de Temer aposta nos recursos da repatriação para reforçar os cofres públicos e melhorar a situação no segundo semestre.

 

Gesto político. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ressaltou ontem a Importância dessas receitas. Para ele, o volume poderá ser maior caso Temer assuma pela melhora da confiança dos agentes econômicos. No domingo, Skaf se encontrou com Temer para entregar uma proposta de ajuste fiscal sem a elevação de impostos. Mas ele reconhece que o enxugamento da máquina pública não implica uma economia muito grande, mas cria um gesto político favorável.

Para José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), não há espaço para aumentar a carga tributária. “O Brasil está viciado em tentar resolver o quadro fiscal sempre pelo lado das receitas”, afirmou. Segundo ele, não dá para pensar em aumentar tributos num cenário como o atual, de depressão econômica. “Não é uma questão econômica, mas física”, disse.

Ex-secretário da Receita no governo de Fernando Henrique Cardoso, Everardo Maciel afirmou a carga tributária chegou no limite para acompanhar o aumento dos gastos. “As despesas são uma caixa-preta e há espaço para reduzi-las”, disse.

Relator do Orçamento de 2016, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) tem pronta uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que desindexa todas as despesas do Orçamento e desvincula todas as receitas.

Ele apresentou a proposta ao grupo de Temer e crê que há viabilidade política para aprová-la. A PEC vai ao encontro do que defende o documento Uma Ponte para o Futuro, do PMDB.

O fim da indexação é uma das pilastras do orçamento defendido pelo partido. Para os economistas ligados à legenda, é “indispensável” que se elimine a indexação de qualquer benefício ao valor do salário mínimo.

 

‘Caixa-preta’

“As despesas são uma caixa-preta e há espaço para reduzi-las”

Everardo Maciel

EX-SECRETÁRIO DA RECEITA NO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO