O Estado de São Paulo, n. 44751, 26/04/2016. Metrópole, p. A13

MORTES POR VÍRUS AUMENTAM 8 VEZES EM PE E CHIKUNGUNYA É PRINCIPAL SUSPEITO

Doenças do ‘Aedes’. São 191 vítimas sob investigação, ante 23 no mesmo período de 2015, o que motivou envio de equipe federal;Paraíba também pediu auxílio. No Recife, 63% dos pacientes apresentaram sintomas da febre, mas óbitos por doença são raros
Por: Lígia Formenti

 

Lígia Formenti / BRASÍLIA

 

Depois da microcefalia, outro alerta em saúde foi dado em Pernambuco, desta vez em torno da febre chikungunya. O Estado registrou neste ano um aumento inexplicado de oito vezes no número de mortes supostamente causadas por arboviroses (vírus transmitidos por insetos). São 191 óbitos sob investigação até esta segunda-feira, 25, ante 23 no mesmo período do ano passado.

Uma equipe do Ministério da Saúde está há três semanas no Estado para investigar as causas das mortes. A Paraíba também relatou aumento significativo do número de óbitos e requisitou ajuda federal. Oficialmente, além de 12 mortes em Pernambuco, o País confirmou 3 óbitos na Bahia, 2 na Paraíba e 1 no Rio Grande do Norte.

O alerta para o aumento dos indicadores de óbitos partiu do professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carlos Brito. “Boa parte dos pacientes que morreram apresentou sintomas relacionados à chikungunya”, disse.O coordenador do Programa Nacional de Controle de Dengue, Giovanini Coelho, confirma a preocupação. “Há na literatura registros de casos graves relacionados à chikungunya. Mas a letalidade esperada é próxima de zero”, afirma.

Dos casos suspeitos de óbito de Pernambuco, 12 foram confirmados para chikungunya e apenas 1, para dengue. A gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Recife, Natalie Barros, conta que, até 2 de abril, dos 40 óbitos suspeitos de terem sido provocados por arboviroses na capital, 7 já foram confirmados para chikungunya. “A análise dos prontuários indica que, dos pacientes que morreram, 63% apresentaram quadro compatível com chikungunya: febre, dores fortes nas articulações”, completou Natalie. Embora seja prematuro, ela também considera forte a hipótese de uma ligação com a febre. “Nunca vimos isso na literatura.”

 

Dúvidas. “Há várias dúvidas que têm ainda de ser respondidas”, comenta Coelho. Entre elas, por que o aumento de casos foi identificado apenas neste ano, em Pernambuco, uma vez que a febre chikungunya já havia provocado em 2015 um número significativo de casos na Bahia? Por que outros países que tiveram epidemias de chikungunya não identificaram aumento das mortes? Os óbitos seriam provocados pelo próprio vírus ou a infecção levaria a uma desestabilização da saúde do paciente?

Uma das hipóteses é de que em outros países a doença não tenha sido identificada porque a epidemia não atingiu grandes proporções. “Foi o mesmo que aconteceu com a microcefalia”, afirma o professor. Já o diretor-geral de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, George Dimech, pede investigação. “Há indícios de que a Colômbia enfrenta um fenômeno semelhante.”

Brito diz estar convicto da relação de causa e efeito. Ele observa que Pernambuco enfrenta neste ano uma epidemia pelo vírus, que, a exemplo da dengue e da zika, é transmitido pelo Aedes aegypti. “A letalidade por dengue nunca foi tão alta. Temos agora de investigar o fato novo: a chegada da chikungunya.”

 

PONTOS-CHAVE

Primeiros relatos são de 2014

 

Tanzânia

A febre chikungunya foi relatada oficialmente e teve suas características definidas pela primeira vez em 1950, na Tanzânia. Ela é causada pelo vírus CHIKV.

 

O nome

Chikungunya significa “aqueles que se dobram” no dialeto Makonde. As dores que atingem as articulações são a melhor forma de diferenciá-la da dengue.

 

Vetor

A doença tem como vetor os mosquitos Aedes – aegypti e albopictus. Ao contrário da zika, não há registro de transmissão de pessoa para pessoa.

 

No Brasil

Os primeiros relatos são de 2014. Considerando dados até abril, a incidência avançou de 3,6 por 100 mil habitantes, em 2015, para 19,1 por 100 mil agora.