Correio braziliense, n. 19304, 02/04/2016. Economia, p. 7

Uso político faz estatais perderem R$ 60 bilhões

Vera Batista

As empresas controladas pelo governo registraram prejuízo de R$ 60 bilhões em 2015, o maior da história. Apenas as duas maiores, Petrobras e Eletrobras, responderam por mais de R$ 50 bilhões das perdas. O péssimo desempenho das estatais foi consequência da desastrosa gestão da equipe econômica, que empurrou o país para a recessão, além de ingerência política e dos efeitos dos atos de corrupção, situações agravadas pelo quadro internacional desfavorável, no entender de analistas de mercado. Diante do quadro desolador, embora algumas medidas saneadoras estejam sendo tomadas, os resultados financeiros ainda refletirão os malfeitos por alguns anos. Melhoras nos balanços dessas organizações só devem acontecer a partir de 2018.

Segundo o Departamento de Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento, que ainda está conferindo as informações contábeis, quando incluídos os bancos no cômputo geral, os resultados melhoram um pouco, mas nada que seja motivo de comemoração. Muito pelo contrário. Os seis maiores grupos (Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa, BNDES e BNB), que representam 95% dos ativos totais, perderam, em 2015, mais de R$ 22 bilhões. O rombo da Petrobras, que em 2014 estava em R$ 21,9 bilhões, saltou para R$ 35,2 bilhões. Na Eletrobras, o prejuízo pulou de R$ 2,9 bilhões para R$ 14,9 bilhões. De acordo com o economista Alex Agostini, da agência Austin Rating, a ingerência governamental arrasou o patrimônio do país.

“Na Eletrobras, foi dramática a exigência de queda do preço da energia. Quando as tarifas finalmente subiram, ficaram tão caras, que provocaram retração no consumo. Na Petrobras, além do represamento dos preços dos combustíveis, houve queda na cotação internacional do petróleo”, disse Agostini. Para ele, esses fatores reduziram o caixa das estatais e estimularam a desconfiança dos investidores. “O mais preocupante é que, quando se olha à frente, não se veem melhoras drásticas na gestão das estatais”, frisa. Em troca de apoio para derrotar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto está loteando o governo, e as empresas públicas não ficarão de fora da distribuição de cargos.

No entender de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, será difícil ver uma reversão rápida da Petrobras. A estatal registra endividamento próximo de R$ 500 bilhões. Com juros de 10% ao ano, cresce R$ 50 bilhões em 12 meses. Não bastassem os números preocupantes, as empresas controladas pelo governo sofrem com a falta de transparência, segundo o economista Cesar Bergo, sócio da Corretora OpenInvest. Para ele, em vez da profissionalização nos cargos de comando, a opção é sempre por nomear algum indicado por senadores ou deputados. Não por acaso, se veem resultados tão ruins. Entre 2014 e 2015, por exemplo a Infraero saiu de um lucro de R$ 58 milhões para um prejuízo de R$ 211 milhões.

Céticos, os analistas ressaltaram que, mesmo com a limpeza feita pela Operação Lava-Jato, a melhora nos resultados financeiros das estatais será quase imperceptível. “A luz no fim do túnel talvez chegue em 2018. A crise ética e moral acabará melhorando a gestão dessas empresas”, frisou Bergo. Para Eduardo Velho, pode haver uma tendência de redução dos prejuízos. “Uma vez que já foram reconhecidos o aumento das despesas e os impactos dos prejuízos da Lava-Jato, os investimentos e a política de preços serão mais realistas”, destacou.

 

Conta dos desvios

 

Os resultados da Petrobras e da Eletrobras, em 2015, estão impactados por “itens atípicos e não recorrentes”, tais como perda por impairment (com corrupção) e provisões para contingências, de acordo com o Ministério do Planejamento. No caso da Petrobras, o Departamento de Empresas Estatais (Dest) informou que o principal motivo para as perdas foi a desvalorização de ativos e de investimentos, no valor de R$ 47,7 bilhões. “Entretanto, a empresa apresentou geração de caixa positivo, da ordem de R$ 53 bilhões, com crescimento dos ativos totais em torno de 13% em relação a 2014”, justificou. O órgão informou, ainda, que os recursos gerados pelas atividades operacionais, desconsiderando os efeitos da depreciação, foi de R$ 73,9 bilhões, em 2015.

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PDV para 12 mil

 

A Petrobras anunciou ontem um programa de demissão voluntária aberto a todos os funcionários, independentemente de idade e tempo de serviço na empresa. É a segunda iniciativa nesse sentido em dois anos. Segundo a estatal, cerca de 12 mil empregados têm condições de se aposentar. Se todos eles aderirem ao programa, haverá uma redução de 21% do quadro de pessoal, que soma, hoje, 57 mil funcionários.

A implantação do Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV 2016) tem custo estimado de R$ 4,4 bilhões, mas o retorno esperado é de R$ 33 bilhões até 2020, segundo comunicado divulgado pela companhia. De acordo com a estatal, o objetivo é “adequar a força de trabalho às necessidades do Plano de Negócios e Gestão, buscando otimizar a produtividade e reduzir custos com foco no alcance das metas”.

A petroleira, que encerrou o ano passado com prejuízo líquido de R$ 34,8 bilhões, depois de já ter sofrido perda de R$ 21,6 bilhões em 2014, tem tomado diversas medidas para reduzir custos. Na semana passada, foi anunciada a redução de sete para seis do número de diretorias. Há dois anos, a empresa lançou um primeiro programa de demissão voluntária, que teve a adesão de mais de 6 mil empregados.

 

Indenização

 

O valor das indenizações para quem aderir ao novo plano de desligamento não foi divulgado, mas,  segundo fontes ligadas aos Sindicato dos Petroleiros, quem se dispuser a deixar a companhia poderá receber um montante entre R$ 212 mil e R$ 706 mil, dependendo do caso. Os empregados poderão aderir até 31 de agosto.