Correio braziliense, n. 19304, 02/04/2016. Economia, p. 7

Indústria em queda livre

Rosana Hessel

A recessão não dá trégua ao país. A produção industrial registrou queda de 2,5% em fevereiro em relação ao mês anterior, o pior resultado para o mês desde 2002, início da série histórica, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O nível da indústria em fevereiro foi muito semelhante ao de dezembro de 2008, em meio à crise financeira global, e o pior de toda a série, mas também está próximo do patamar observado em 2004”, disse o economista André Macedo, coordenador da Pesquisa Industrial Mensal (PMI) do IBGE. Quando comparada à de fevereiro de 2015, a produção tombou 9,8%, o 24º recuo seguido nessa base de comparação.

Somente no primeiro bimestre do ano, a queda acumulada da indústria chegou a 11,8%. Em 12 meses, atingiu 9%, número que não se vê desde novembro de 2009.  “Nessa comparação, que mostra um resultado mais de longo prazo, dos 26 setores pesquisados, 25 tiveram taxa negativa. Apenas o setor de celulose registrou desempenho estável. Isso comprova que a retração está bastante disseminada”, afirmou Macedo. Para ele, o desastre ambiental em Mariana (MG) impactou negativamente o setor extrativo em fevereiro, mas o segmento de petróleo também contribuiu para a retração.

Na avaliação do economista-chefe para mercados emergentes da consultoria britânica Capital Economics, Neil Shearing, a queda de 2,5% em fevereiro, após ganho modesto de 0,4% em janeiro, mostra que a indústria deverá recuar 2,3% no primeiro trimestre, ajudando a afundar o Produto Interno Bruto (PIB). “As famílias estão sob a pressão de uma combinação de desemprego em alta, crédito mais apertado, elevados endividamento, além da incerteza política. Não é nenhuma surpresa que o consumo tenha recuado, afetando a produção”, destacou.

Renato da Fonseca, gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destacou que, desde dezembro de 2014, a produção industrial vem registrando queda ante o mês imediatamente anterior, salvo duas exceções: janeiro deste ano e maio de 2015. “Foram dois pontos fora da curva. A tendência é de queda. E os setores de bens duráveis, sobretudo automóveis, e de bens de capital são os mais afetados. A queda dos bens duráveis era esperada, porque o consumo das famílias está se retraindo rapidamente. A de bens de capital reflete a falta de investimentos, pois não há confiança no futuro e o crédito está caro e escasso”, explicou.

Apesar de registrar alta de 0,30% em fevereiro frente ao mesmo mês de 2015, a produção de bens de capital recuou 25,80% no acumulado do bimestre.  Já o tombo de bens duráveis foi de 5,3% no comparativo mensal e de 29,30% no bimestral.

 

Desemprego crescente

 

Segundo o economista André Macedo, coordenador da Pesquisa Industrial Mensal (PMI) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não há perspectiva de recuperação para a indústria tão cedo. “Vivemos um longo e profundo processo de encolhimento da produção. Se olharmos a comparação da média móvel trimestral de bens de capitais, por exemplo, o recuo ocorre de forma acentuada desde o ponto mais alto da série em 2013”, destacou.  Para Renato da Fonseca, gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a ociosidade da indústria atingiu, em janeiro, o pior nível da história. Não à toa, o desemprego é crescente e o nível de emprego voltou aos de 2006.