Correio braziliense, n. 19307, 05/04/2016. Política, p. 3

Constrangimento no PMDB

Paulo de Tarso Lyra

Julia Chaib

A decisão do diretório do PMDB da Bahia de fazer uma representação pedindo a expulsão da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, pode transformar-se em uma ação mais intensa de outros diretórios regionais. O diretório do Acre pode agir da mesma forma em relação ao ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera.

Até o momento, no entanto, à exceção de Henrique Eduardo Alves (Turismo) e alguns apadrinhados do vice-presidente Michel Temer, todos os peemedebistas continuam exatamente no mesmo lugar. Integrantes do partido admitem que a demora começa a desgastar a imagem de unidade do partido. “O Michel (Temer) deveria vira a público obrigar o cumprimento da resolução partidária”, afirmou um militante, incomodado com a situação.

Existe também uma queixa generalizada contra a postura do Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), que estava ciente da decisão do desembarque, acertada em convenção partidária. Pior, na véspera da reunião do diretório, recebeu Temer na residência oficial e concordou que o rompimento fosse decidido por aclamação. Agora, alardeia que foi uma ação precipitada.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) justificou a ação contra Kátia. “Além de resistir, a Kátia Abreu, que não tem história partidária, ainda afronta explicitamente o partido ao dizer que não deixará o ministério nem o PMDB”, criticou Lúcio. Ontem, pelas redes sociais, a ministra da Agricultura reforçou essa posição. “Recebi convites honrosos, mas meu partido é o PMDB. Pretendo aqui continuar”.

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) defendeu ontem a antecipação as eleições gerais para outubro deste ano, junto com o pleito municipal. Embora não tenha proposto a ideia oficialmente, Raupp disse que o pedido pode ser objeto de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). “O clamor das ruas é a base política da minha proposta. De fato, o Brasil vive hoje grave crise política, que, dia após dia, intensifica-se, em meio a acusações de corrupção, com ou sem fundamentos, mas que trazem, em ambos os casos, novas incertezas para o país”, disse.

 

Conversa

Raupp, que se colocou favorável ao impeachment, apesar do discurso, ainda disse que conversou com o vice-presidente Michel Temer pelo telefone, em que ele teria afirmado não querer ser presidente. O telefonema teria ocorrido no dia 29, uma semana antes da data oficial do desembarque do governo. “Ele falou para mim, por telefone. Ele estava em São Paulo, eu estava aqui reunido com meia dúzia de companheiros do PMDB, e ele disse exatamente isto: ‘Raupp, eu não quero ser presidente numa situação desta, porque, com impeachment ou sem impeachment esse negócio não vai acabar bem’”, disse.

A assessoria do vice-presidente negou que o teor da conversa tenha sido nesses termos e disse que o senador compreendeu mal o que foi dito por Temer. Raupp é membro do diretório e apoiou o desembarque do PMDB. Hoje, a Rede Sustentabilidade faz um ato para pedir convocação de novas eleições.

 

Frase

“Além de resistir, a Kátia Abreu, que não tem história partidária, ainda afronta explicitamente o partido ao dizer que não deixará o ministério nem o PMDB”

 

Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), deputado federal