Título: Nas mãos da Eslováquia
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Fonte: Correio Braziliense, 12/10/2011, Economia, p. 12

Parlamento rejeita ampliação do fundo de resgate da região e aumenta ansiedade nos mercados. Para BCE, crise está se espalhando NotíciaGráfico

Vivendo a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial, a Europa tem hoje o seu destino nas mãos da pequena Eslováquia, cujo Produto Interno Bruto (PIB) corresponde a apenas 0,81% de toda a riqueza da Zona do Euro. O parlamento eslovaco rejeitou ontem, em primeira votação o plano, acertado em julho em uma reunião de cúpula, que prevê ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) para 440 bilhões de euros para dar fôlego às economias fragilizadas. O país é o último dos 17 que fazem parte da união monetária a decidir sobre o assunto. Embora as autoridades europeias esperem que o plano seja aprovado em uma segunda rodada de votação, ainda sem data definida, a ansiedade dos mercados aumentou.

Mesmo com a expectativa de que o aumento acabe sendo aprovado, os analistas consideram que o novo valor do Feef é apenas um paliativo frente o tamanho do problema de endividamento dos países da região, já que a estimativa é que o Banco Central Europeu (BCE) esteja sentado em 1 trilhão de euros em títulos podres. Uma rejeição definitiva do parlamento eslovaco poderia derrubar o já fragilizado partido de coalizão que governa o país. A primeira-ministra, Iveta Radicova, enfrenta dificuldades para sensibilizar a base aliada e condicionou o futuro de seu governo à aprovação do novo Feef.

O governo local possui uma pequena maioria em um parlamento de 150 deputados, porém 22 deles pertencem ao SaS, um partido liberal que manifestamente se opõe à união dos países europeus.

O líder da sigla, Richard Sulik, se nega a votar a favor do Feef, exceto se os parceiros da união monetária aceitarem que a Eslováquia não pague sua parte de 7,7 bilhões de euros na fatura. "Na verdade, o que está acontecendo é que a Eslováquia está tendo os seus 15 minutos de fama", criticou Felipe Queiroz, analista da Austin Rating.

Vontade A chanceler alemã, Angela Merkel, manteve o discurso positivo, apesar da frustração. Em visita ao Vietnã, afirmou que a Zona do Euro tem "a vontade política" de superar a crise. Já o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, adotou um tom mais alarmista e disse que a "crise é grave e sistêmica" e já está contaminando os Estados Unidos. "Precisamos superar as desavenças políticas", disse.

A despeito da tensão, os mercados tiveram dia de relativa calma. A maioria das bolsas na Europa fechou no vermelho, mas beirando a estabilidade. Paris recuou de 0,25%, Londres cedeu 0,06% e Madri encolheu 0,5%. Já Frankfurt subiu 0,30%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones baixou 0,15% enquanto a bolsa eletrônica Nasdaq subiu 0,6%. O índice S&P500 registrou ligeira alta, de 0,05%.

A exceção dessa baixa volatilidade ficou no Brasil, onde a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) disparou 1,06%, no sexto pregão seguido em terreno positivo. Na Ásia, Tóquio marcou alta de 1,95% e Shangai subiu 0,16%, influenciada pelo socorro do governo chinês aos quatro maiores bancos estatais do país e pela promessa de que a ajuda financeira a essas instituições irá durar até 2012.

Dólar encolhe mais 0,26% Pelo sexto pregão seguido, o dólar se desvalorizou ante o real, fechando ontem a R$ 1,759, com queda de 0,26%. Apenas nesse período, a divisa acumulou um recuo de 7%. Foi a maior sequência de baixas desde julho, quando a cotação da moeda caiu seguidamente entre os dias 19 e 26. Segundo analistas, os investidores estão se livrando de ativos considerados mais seguros, como o dólar e os títulos do Tesouro norte-americano para aplicar em ações.

Bancos precisam de 100 bi de euros Cerca de 48 bancos europeus poderão ter que levantar 100 bilhões de euros (US$ 137 bilhões) para fortalecer seus balanços, disseram fontes à Agência Reuters. A Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) vai exigir um nível mínimo de capital das instituições para que elas sobrevivam em um cenário de recessão. Os bancos gregos seriam os mais atingidos. Os valores foram levantados em um teste de estresse feito pela EBA nos últimos dias, mais rigoroso do que o aplicado ao sistema bancário em julho. A Comissão Europeia deve anunciar hoje um plano de recapitalização.