O Estado de São Paulo, n. 44749, 24/04/2016. Política, p. A7

Temer planeja desinchar base de apoio no Congresso

Com previsão de redução de número de ministérios, grupo próximo ao vice-presidente acredita que núcleo será formado por 9 partidos
Por: Daiane Cardozo / Caio Junqueira

 

Daiane Cardozo

Caio Junqueira

 

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) planeja rever a base de apoio do governo na Câmara dos Deputados para exercer o cargo se o impeachment da presidenta Dilma Rousseff avançar no Senado. A ideia é trabalhar com uma base não tão ampla como a que deu 367 votos favoráveis ao impeachment da petista, egressos de 22 partidos (PMDB, PSDB, PP, PSD, PSB, DEM, PR, PRB, SD, PTB, PSC, PTN, PPS, PV, PHS, PDT, PROS, REDE, PTdoB, PSL, PMB e PEN); nem tão diminuída que não lhe dê maioria simples (257 deputados) para aprovar qualquer proposta.

A palavra de ordem é reconstruir a relação com o Congresso Nacional formando uma base sólida e fiel que gire em torno de 308 deputados, o suficiente para aprovar emendas constitucionais. O peemedebista quer evitar que um inchaço da aliança o obrigue a fazer muitas concessões, no momento em que uma das medidas mais esperadas é o redesenho da máquina administrativa,tendo como símbolo a redução do número de ministérios.

Pretende esquivar-se daquela que é considerada a maior base da era petista, que chegou a ter 402 deputados no início do primeiro mandato de Dilma, em 2011. Conhecido por ser bom articulador e ter trânsito com a maioria dos deputados, Temer vem recebendo os líderes partidários, ouvindo opiniões e prometendo dar atenção à futura base, algo que Dilma não conseguiu fazer ao longo de seu governo.

Outro ponto que Temer quer rever na relação com o Congresso é o envio de pacotes de medidas sem a prévia negociação com parlamentares, algo comum na era Dilma. A estratégia agora será buscar projetos em tramitação no Congresso, de autoria de deputados ou senadores, e moldá-los de acordo com os interesses do Executivo.

A reforma da Previdência já é dada como um tema certo na agenda legislativa de Temer. Ele também pretende atrair a base com projetos de interesse do setor privado, como a venda de ativos e reformulação das PPPs (Parcerias Público-Privadas) e revisão de regras de licenciamento ambiental. A volta da CPMF, pelo seu caráter impopular, não está descartada. Mas a tendência é de que não seja articulada de imediato tendo em vista a proximidade das eleições municipais.

 

Base.No novo desenho da base, o núcleo a ser formado será liderado pelo PMDB (65 deputados), com a participação do centrão - PP (47), PR (40), PRB (22) e PTB (19) - e da oposição - PSDB (51), PSB (31) DEM (29) e SD (14). Somados, 318 votos.

"Temer vai procurar fazer uma base confiável e que possa ser bem atendida", destacou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), referindo-se à composição de cargos no futuro governo. "Ele não pode fazer um governo de união nacional se não der espaço para todos", emendou o deputado.

O PMDB evidentemente será o eixo da base. Para tanto, Temer não quer problemas com os correligionários e manterá o atual líder da bancada, Leonardo Picciani (RJ), na função, mesmo ele tendo se posicionado contra o impeachment.

Primeiro porque Picciani, ao ver que a bancada se posicionaria majoritariamente a favor do impeachment, não impôs maiores obstáculos para que isso ocorresse. Ao final, apenas 7 dos 66 peemedebistas o acompanharam. Segundo, porque o pai de Picciani, Jorge Picciani, preside o diretório do PMDB no Rio, o mais forte do partido, e Temer não quer conflitos com ele.

Na oposição, enquanto o DEM fala abertamente em "predisposição para o diálogo", compor com o novo governo e dar legitimidade a Temer, os tucanos ainda discutem a conveniência de participar da nova administração. Mas o apoio legislativo dentro de uma agenda a ser discutida é bem provável. "Não tem como deixar de colaborar com o governo. Não podemos deixar o País acéfalo", defendeu o deputado tucano Bruno Araújo (PE).

Líder do PTB e relator do processo de impeachment de Dilma na Câmara, o deputado Jovair Arantes (GO) disse que a sigla "nunca foi obstáculo para governo algum" na Casa e que agora não será diferente, mas que querem ajudar com ideias. "Queremos ser valorizados na essência. Queremos ser protagonistas", avisou.

Jovair acredita que ainda não é hora de conversar sobre cargos porque a preocupação prioritária de Temer é indicar os ministros de sua cota pessoal, principalmente da equipe econômica. "Os demais ministérios certamente não têm problema se discutir uma semana depois", completou Jovair.