Correio braziliense, n. 19309, 07/04/2016. Política, p. 4

Protestos dentro da Câmara

Guilherme Waltenberg

Marcella Fernandes

Grupos a favor e contra o impeachment de Dilma Rousseff protestaram nos corredores paralelos à sala onde era lido o voto do relator do pedido de afastamento, Jovair Arantes. As manifestações ocorreram apesar de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter limitado as atividades dentro da Casa.

Logo no começo da tarde, um grupo com cerca de 70 manifestantes entoou gritos contra o impeachment de Dilma e pelo afastamento de Cunha. Entre as palavras de ordem, estavam “fora Cunha” e “não vai ter golpe”. O movimento foi organizado pelo Comitê Pró-Democracia, que inclui representantes da sociedade civil e parlamentares. Havia diversos estudantes ligados a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) vindos de vários estados, como Minas Gerais, Goiás e Sergipe.

“Nossa intenção foi vir acompanhar o processo de impeachment que está aí ocorrendo na Câmara, que está sendo feito todo nas coxas, cheio de manobras”, explicou o estudante Ângelo Márcio, representante da Ubes. Ele reclamou que foi difícil entrar nas dependências da Casa devido às novas regras que Cunha estabeleceu.

Segundo ele, a estratégia utilizada pelo grupo para entrar na Câmara foi colar adesivos dos patos, símbolo de protesto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contra o aumento de impostos e pelo fim do governo Dilma. “Isso não é democracia, só quem tem é da campanha do pato pode entrar”, reclamou.

Sob ordem de Cunha, a Diretoria-Geral da Câmara enviou uma nota afirmando aos servidores que “são proibidas manifestações de apreço ou desapreço nas dependências da Casa”. O texto cita como respaldo legal a Constituição e o Regimento da Câmara. Nos últimos dias, servidores foram vistos em manifestações contrárias ao impeachment.

Do lado oposto da sala onde os manifestantes contra o impeachment gritavam palavras de ordem, formou-se um novo burburinho — favorável ao impeachment. Entre os gritos, estavam “vai ter impeachment”, em resposta “não vai ter golpe”, e “Lula ladrão”.

O protesto, que contou com a participação de cerca de 30 pessoas, foi organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL). Segundo Alexandre Paiva, um dos coordenadores nacionais do grupo, a ideia era acompanhar os debates sobre o afastamento de Dilma. A decisão de fazer um protesto no local ocorreu quando viram que havia representantes de movimentos pró-governo se manifestando. “Se eles podem, nós também podemos”, explicou.

Paiva também relatou dificuldade para entrar no Congresso. A solução encontrada pelo grupo, no entanto, foi ligar para deputados simpáticos à causa, que teriam autorizado o acesso à Câmara. Ele se recusou a informar quais parlamentares liberaram. Não houve registro de brigas.

 

Pato

A campanha contra aumento de impostos da Fiesp batizada de “Eu não vou pagar o pato” gerou um início de tumulto ontem quando uma pessoa com a fantasia da ave reportou ter sido agredida pelo ex-deputado estadual petista Frei Sérgio, do Rio Grande do Sul.

Segundo a Fiesp, os manifestantes teriam sido empurrados em frente ao Congresso. A polícia acabou chamada e registrou um boletim de ocorrência sobre o caso. De acordo com a entidade, é o terceiro BO por ataques ocorridos em protestos que usam os patos como símbolo.

O deputado federal Bohn Gass (PT-RS) foi acionado para auxiliar o correligionário e criticou tanto a ação da polícia quanto da Fiesp, alegando que Frei Sérgio não sabia que havia pessoas dentro das fantasias de pato. “Ele tomou um susto na hora que o pato se mexeu”, contou. “Sua reação (de empurrar) foi mais pelo susto, não justificava nada disso”, prosseguiu.  “É um grande exagero. Certamente não eram manifestantes nos patos, mas pessoas pagas. Agora sou eu que quero saber: quem pagou o pato?”, concluiu.

 

Frase

“Nossa intenção foi vir acompanhar o processo de impeachment que está aí ocorrendo na Câmara, que está sendo feito todo nas coxas, cheio de manobras”

 

Ângelo Márcio, estudante