Título: Urnas se abrem nos Estados Unidos
Autor: Carlos, newton
Fonte: Correio Braziliense, 12/10/2011, Opinião, p. 15

O governador do Texas, Rick Perry, entrou aos poucos na disputa sobre quem será o candidato republicano com a tarefa de destruir Obama nas eleições presidenciais do ano que vem. Ainda sem confessar-se à disposição de seu eleitorado, sobretudo ultraconservador, Perry convocou e comandou em agosto um dia de orações para que cessasse o que chamou de declínio nacional dos Estados Unidos. O Estádio Reliant, de Houston, ficou repleto: mais de 30 mil pessoas atenderam à sua convocação, convencidos de que ele afinal aceitaria disputar as primárias do partido.

Perry governa um estado forte e com agenda ao gosto da direita religiosa, que se fortalece com as dificuldades de Obama. Com bons índices nas pesquisas, decidiu afinal participar dos debates entre os pré-candidatos republicanos. Tem o vigor econômico do Texas como arma contra os demais aspirantes, e é um hábil administrador de paixões que mobilizam americanos empenhados em tirar da Casa Branca o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Em meio às discussões sobre entidade palestina, acusou Obama de ser anti-Israel, numa caça aos votos judeus, em geral democratas.

Endureceu o discurso contra imigrantes ilegais, depois de defender, com perdas de pontos valiosos, a lei que concede a eles bolsas de acesso à universidade do estado. Embora sem grande desenvoltura nos primeiros debates, mas com forte retaguarda, Perry continuou avançando e já tenta inclusive tomar votos negros de Obama. Colocou um negro na Corte Suprema do Texas, o primeiro a ter assento no mais alto tribunal do estado. Um negro foi nomeado por ele chairman da Universidade do Texas, também o primeiro nesse alto cargo.

Organizações de negros dizem que são procuradas por um Perry disposto a ajudá-las. A complicada questão racial também entra na campanha eleitoral americana. Desemprego é o que mais atormenta Obama. Mas ele, em sua luta pela reeleição, terá de também travar enfurecida guerra cultural. O evolucionismo já entrou em cena, com Perry apontando para a lixeira. A campanha pró-revitalização cristã apressou o passo, em favor de Perry, no Estádio Reliant, e terá papel vital nas eleições presidenciais de 2012.

Outro pré-candidato, Mitt Romney, considerado o favorito do establishment republicano, parecia com escolha decidida previamente. Mas Perry entrou em campo com firmeza. O Texas tem desemprego de 8%, abaixo da taxa nacional, e seu governador atribui isso a juros baixos e pouca regulação econômica, itens destacados da agenda ultraconservadora. Mas ainda há receios, entre os burocratas republicanos, de que Perry espante votantes moderados.

Ele junta direita religiosa com sentimentos anti-Washington. Chamou de traidor o presidente do Banco Central dos Estados Unidos que, na opinião dele, não devia ter dado estímulos a uma economia em recessão e de desemprego em alta. Quer ser um presidente não presidente e parece ter orgulho de mostrar-se assim. Questiona receitas antiaquecimento do planeta. Ou, como Bush, não aceita que a antipoluição seja feita com a redução das emissões de gases venenosos que prejudique, por exemplo, a toda-poderosa indústria petrolífera.

Não importa o que digam especialistas empenhados em preservar a Terra. Mostrou-se amante da pena de morte em confronto direto com Obama. Oitenta por cento das execuções nos Estados Unidos são feitas em estados sulistas, da antiga Confederação, com ampla maioria no Texas de Perry. De nada valeu o apelo de Obama para que fosse pelo menos adiada por 30 dias a execução de um imigrante mexicano. Já foram feitas mais de 200 execuções com ele como governador. Perry se mostra com a convicção de que isso dá votos.