Correio braziliense, n. 19317, 15/04/2016. Política, p. 6

Para o PT, a luta continua

Paulo de Tarso Lyra

Naira Trindade

O governo reconhece que o momento é difícil, mas resolveu não jogar a toalha e lutar, até o último momento, para reverter votos desfavoráveis no processo de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A presidente fará um pronunciamento à nação na noite de domingo, independentemente do resultado da votação. Até lá, o caminho é longo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue enfurnado em um hotel de Brasília tentando passar a imagem de fiador do governo Dilma. Ela confirmou a presença em um ato no sábado, no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), em frente ao ginásio Nilson Nelson.

Em entrevista coletiva concedida ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, tentou demonstrar otimismo. “Não podemos nos transformar em uma republiqueta a partir de um golpe de Estado conduzida por um vice-presidente conspirador (Michel Temer), um presidente da Câmara que é réu de vários crimes (Eduardo Cunha) e por um grupo político que, após ser derrotado quatro vezes seguidas, tenta chegar ao poder sem a legitimidade do voto popular,” atacou Falcão, se referindo ao PSDB.

O presidente do PT levantou a suposição de que pode estar em curso um acordo para interromper as investigações em curso de casos de corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato. “No áudio vazado com as palavras do vice-presidente, por três vezes foi dita a necessidade de se impôr sacrifícios à população. Em nenhum momento a palavra corrupção foi mencionada”. Falcão fez questão de destacar que a presidente Dilma é uma mulher íntegra, honesta e que não cometeu qualquer tipo de crime de responsabilidade, e destacou que “impopularidade não é razão para impeachment”.

Ele admitiu que a presidente Dilma está disposta a conversar com todos os segmentos da sociedade e, se necessário, com os partidos da oposição para elaboração do programa de crescimento econômico e distribuição de renda e geração de emprego para que o país possa sair da crise na qual se encontra atualmente. Questionado sobre o diálogo apenas em caso de vitória e não em caso de derrota, Falcão afirmou que o PT “não vai legitimar qualquer governo que não tenha nascido a partir do voto popular.”

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, considerou que as informações sucessivas de votos a favor do impeachment e as deserções nas hostes governistas — tática adotada pela oposição — criou um “terrorismo psicológico” contra o governo. Eles avaliam que as publicações de placares têm induzido alterações no resultado.  No Planalto, a imagem que desejam transparecer é que o desembarque do PP não assusta neste momento. “A saída do partido serviu apenas para queimar a gordura que o governo tinha”, afirmou um interlocutor. Apesar das mudanças, o Planalto calculava 170 votos ontem.

 

Diálogo

Na tentativa de conseguir mais apoio, o Planalto intensificou o diálogo com governadores para que eles possam convencer as bancadas a apoiar a presidente. Ontem, o governador do Ceará, Camilo Santana, se reuniu com os ministros Ricardo Berzoini e do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner. Estiveram também no Planalto os governadores Wellington Dias (PI) e Rui Costa (BA).  “Dilma vai buscar uma nova coalizão caso saia vitoriosa no próximo domingo”, admitiu um assessor palaciano. O governador de Minas, Fernando Pimentel, também entrou no processo.

 

As lideranças do governo na Câmara farão monitoramento intenso dos deputados entre amanhã e domingo. No Planalto, ministros e assessores também estarão de prontidão. Dilma deve permanecer no Alvorada ao longo de todo o fim de semana.