Título: Complô iraniano
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/10/2011, Mundo, p. 16

EUA denunciam plano de ataque às embaixadas da Arábia Saudita e de Israel. Dois suspeitos teriam ligação com uma força especial do regime de Teerã

Se em mais de 30 anos Estados Unidos e Irã não foram capazes de retomar as relações diplomáticas, essa possibilidade parece ainda mais distante com uma nova crise que tomou forma ontem. O governo norte-americano anunciou ter descoberto e impedido um plano terrorista para assassinar o embaixador da Arábia Saudita em Washington e atacar a representação de Israel. Segundo o procurador-geral, Eric Holder, os mentores e executores do atentado frustrado teriam ligação com Teerã. Imediatamente, o governo iraniano respondeu acusando os EUA de darem início a "mais uma campanha de difamação". A Arábia Saudita, por sua vez, disse que "tomará medidas" e, "no mínimo", chamará seu embaixador no Irã para consultas.

Na entrevista coletiva, Holder apresentou aos jornalistas documentos oficiais da denúncia levada a um tribunal de Washington. Segundo os papéis, o FBI (polícia federal dos EUA) e a agência de combate às drogas, a DEA, desmantelaram o plano e chegaram aos nomes de dois suspeitos: Manssor Arbabsiar, iraniano naturalizado norte-americano, que foi preso em setembro, e Gholam Shakuri, que está em liberdade.

O procurador-geral responsabilizou "setores do regime" iraniano pela trama e garantiu que Washington punirá a República Islâmica. Mais tarde, o Departamento do Tesouro anunciou sanções contra membros da Força Quds, uma divisão da Guarda Revolucionária ¿ unidade militar de elite do Irã ¿, implicada no complô por Holder. O procurador-geral afirmou que os dois acusados teriam ligação com agentes de Teerã. "A queixa criminal revelada expõe um complô mortal dirigido por facções do governo iraniano para assassinar um embaixador estrangeiro em território norte-americano, com explosivos", disse.

Holder também apontou conexões entre os envolvidos e cartéis da cocaína no México, cujo governo foi comunicado. Segundo a denúncia, os dois acusados teriam entrado em contato com um agente da DEA infiltrado em uma organização criminosa mexicana, no âmbito de investigações sobre o narcotráfico. Os iranianos teriam proposto ao falso traficante que providenciasse a execução dos atentados, pelos quais pagariam US$ 1,5 milhão.

O presidente Barack Obama foi informado, assim como a secretária de Estado, Hillary Clinton. Esta afirmou que o suposto plano deve isolar "ainda mais" o Irã da comunidade internacional, e antecipou que seu governo deverá consultar outros países sobre a oportunidade de levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A resposta iraniana veio logo após o anúncio de Holder. Ali Akbar Javanfekr, porta-voz do presidente Mahmud Ahmadinejad, citou para a rede americana de tevê CNN uma nota oficial na qual o governo iraniano denuncia uma "manobra" norte-americana para difamar o país. "O governo dos EUA está ocupado fabricando um novo cenário e a história tem mostrado que tanto a administração como a CIA (agência de inteligência dos EUA) têm grande experiência nisso", disse o porta-voz. "Eles querem desviar as atenções do público para os sérios problemas domésticos que estão enfrentando atualmente, e tentam assustar (os cidadãos) fabricando problemas fora do país."

Dúvidas Para o diretor do Centro de Estudos Internacionais do Massachusetts Institute of Technology (MIT), John Tirman, há muitas questões a serem respondidas sobre o episódio, e a principal delas é o porquê de a história vir à tona neste momento. "Por que um plano do Irã para assassinar um embaixador em Washington, onde a segurança é mais reforçada do que em qualquer outro lugar?", questionou, em entrevista ao Correio. O que é certo, em sua opinião, é uma escala de tensão entre EUA e Irã.

Em Riad, o porta-voz governamental Abdullah Alshammari declarou, em entrevista à agência de notícias Reuters, que a Arábia Saudita "tomará medidas" em resposta à ameaça contra seu embaixador nos EUA, Adel Al-Jubeir. "Após esse incidente, muitos esperam que o reino tome providências e, no mínimo, chame (de volta a Riad) seu embaixador no Irã", disse Alshammari. "Na opinião dos que tomam as decisões no país, essa situação não passará impunemente."