Correio braziliense, n. 19315, 13/04/2016. Política, p. 3

PP é mais um a desembarcar

Paulo de Tarso Lyra

Marcella Fernandes

Julia Chaib

Naira Trindade

 

Considerado o sucessor natural do PMDB nos espaços do governo e responsável por aglutinar os votos que poderiam salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff, o PP decidiu ontem, por maioria da bancada na Câmara — 31 votos contra 13 —, apoiar a abertura do processo de impeachment. Ato contínuo, o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PI), anunciou a renúncia do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, e do presidente da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Felipe Mendes.

A decisão deve gerar um efeito manada e poderá circunscrever o apoio ao Planalto, de maneira mais consistente, apenas nas legendas consideradas ideológicas, como o PT e o PCdoB. O PRB já fechara questão a favor do impeachment, enquanto o PR soltou uma nota reforçando o alinhamento ao Planalto. Mas, na opinião de Ciro Nogueira, a posição da última sigla é frágil, diante do gesto do ex-líder da bancada Maurício Quintella Lessa (AL), que renunciou ao posto porque defende o impeachment, contrariando orientação da direção nacional. “Todos sabem que essa não é uma decisão que gostaria de tomar. Mas não posso ficar contrário a uma decisão tomada pela bancada da Câmara, instância na qual o assunto está sendo tratado neste momento”, anunciou Ciro, visivelmente constrangido.

No PR, um levantamento feito pela ala pró-impeachment aponta apenas 9 dos 40 deputado fechados com o governo. Outros 31 querem o impeachment e cinco estão indecisos. O principal cacique do partido, Valdemar da Costa Neto, defende arduamente o alinhamento com o governo, em busca de novos espaços — o partido já comanda o Ministério dos Transportes. A legenda substituiu Quintella por Aelton de Freitas (MG), mas poderá ser tarde demais.

Mesmo com o desembarque do PP, fontes do Planalto garantem que o governo tem 213 votos. “O governo não está desesperado por causa da votação, mesmo com um possível desembarque do PP”, diz um representante do palácio. “O Executivo só estaria desesperado se não tivesse apoio popular.”

 

Saia-justa

Já para os oposicionistas, o próximo a assumir a saia-justa de romper com o Planalto é o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que deve reunir a bancada hoje. Há pressão para se convocar uma reunião da Executiva Nacional também a fim de consolidar a posição contra Dilma. Na conta de peemedebistas pró-impeachment, 340 votos estão garantidos, 127 estão com o governo e existem 46 indecisos.

“O que eles estão fazendo é turvando a água para ver se conseguem pescar mais coisas. Mas não vão conseguir”, afirmou o vice-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). “No dia da votação, teremos os votos necessários para evitar o golpe”, afirmou. “Sofremos um ataque especulativo que viralizou. Como eles ainda não têm os votos necessários para garantir o impeachment, promovem o terrorismo para empurrar os indecisos para o lado deles”, reclamou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Na prática, a situação do governo deteriorou a uma velocidade impressionante ao longo do dia de ontem. O PMDB, com o vice-presidente Michel Temer e o senador Romero Jucá (RR), intensificou a pressão sobre quem ainda não se decidiu, sinalizando que o governo Dilma não terá nenhuma condição de permanência mesmo que sobreviva ao impeachment. “Você pode até aceitar um emprego e, depois, a empresa quebrar. Mas aceitar uma oferta de uma empresa que já está em processo de falência é um risco muito grande”, reconheceu um líder partidário.

 

Pesou também contra o Planalto uma frase considerada desastrada, proferida pelo chefe do gabinete pessoal da presidente Dilma, ministro Jaques Wagner. Após o vazamento do áudio de Temer, ele defendeu a renúncia do vice-presidente. “Se eles sobreviverem ao impeachment, vão partir para o revanchismo ou cumprir os acordos que fizeram?”, questionou um dos deputados indecisos. Na semana passada, o ex-presidente Lula resumiu o sentimento em um encontro com senadores do PT. “A gente não precisava ter chegado a esse ponto.”

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O PMDB que apoia Dilma

 

Após o vazamento de áudios do vice-presidente Michel Temer, o ministro peemedebista de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, discursou em defesa da presidente Dilma Rousseff em evento no Palácio do Planalto e confirmou que três ministros do PMDB que são deputados licenciados vão se afastar dos cargos para se posicionarem contrariamente ao processo de impeachment no plenário da Câmara.

Na cerimônia de apoio à petista, Pansera contou que os ministros da Saúde, Marcelo Castro, e da Secretaria de Aviação Civil, Mauro Lopes, participaram de reunião, na segunda-feira à noite, com a presença de outros três peemedebistas chefes de pastas: Kátia Abreu (Agricultura), Helder Barbalho (Portos) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Todos concordaram em não deixar a Esplanada dos Ministérios mesmo sob a possibilidade de a Executiva Nacional pedir a expulsão deles.

Em um discurso duro, Pansera afirmou que o processo de impeachment significa um terceiro turno das eleições presidenciais de 2014 e criticou o fato de o Congresso estar parado em prol da votação. “Vamos encerrar o turno das eleições de 2014 no domingo e vamos ganhar de novo. E espero que, desta vez, respeitem o resultado”, afirmou. O discurso não foi bem recebido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. “Se o PMDB fechar questão e ele votar, vai sofrer as sanções”, afirmou. (NT e MF)