Correio braziliense, n. 19314, 12/04/2016. Economia, p. 10

Comércio fecha 253 mil vagas em 2016, diz CNC

Rodolfo Costa

Hamilton Ferrari

 

A recessão vai devastar os empregos no comércio varejista. Ao fim de 2016, as demissões terão superado as contratações em 253,4 mil, segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Se confirmado, o fechamento de vagas com carteira assinada terá sido 3,3% maior que o verificado no ano passado.
Na análise de Fábio Bentes, economista-sênior da entidade, o setor ainda não atingiu o fundo do poço. “A piora reflete um ajuste tardio no mercado de trabalho e a certeza de que o varejo sofrerá uma queda acentuada nas vendas”, avaliou. Ao contrário do que ocorreu em outros segmentos da economia, o emprego no comércio foi uma das últimas áreas a ser engolida pela crise.
Bentes destacou que apenas em agosto do ano passado as demissões superaram as contratações. Naquele mês, o número de vagas formais encolheu 0,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a contração média em todas as atividades foi de 2,3% na mesma base de comparação. “O ajuste no mercado de trabalho nunca é curto. No caso do comércio, podemos ter uma defasagem de cerca de seis meses”, estimou. Com o aprofundamento da recessão, a tendência natural é de que o desemprego aumente em outros setores da economia.
O cenário tende a intensificar a queda da massa de rendimentos e, por sua vez, do faturamento do comércio, levando os lojistas a enxugarem o quadro de forma mais intensa nos próximos meses. Com a previsão de fechamento recorde de vagas, a CNC também aumentou a projeção de recuo das vendas em 2016, de 7,8% para 8,3%.

Luta
A crise no varejo é disseminada e atinge principalmente os segmentos de bens duráveis. Gerente de uma loja de móveis e eletrodomésticos, Fegley Rocha calcula queda de 30% nas vendas no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. “O crédito ficou mais caro para o consumidor, que tem se retraído”, lamentou.
Devido ao forte recuo no movimento, a loja gerenciada por Rocha demitiu oito funcionários só no início deste ano, o dobro dos desligamentos de 2015. “Estamos lutando para manter os que ficaram”, disse. Com a inflação corroendo o orçamento das famílias, cada vez mais pessoas estão segurando os gastos e consumindo apenas o necessário. É o caso da diarista Maria José dos Santos Silva, 61 anos.
“Lá em casa, tenho um freezer que não está mais congelando direito. Mesmo assim, hoje é impossível comprar outro. Está tudo muito caro e o dinheiro que sobra é para alimentação, remédios e as contas mensais”, afirmou ela, que teme pela perda do emprego do marido.

 

 

Em queda
Com aprofundamento da recessão, varejistas vislumbram menos vendas e mais desemprego.

Vendas (em %)    Empregos (em mil)
2005    3,1    400,9
2006    6,4    345,1
2007    13,6    408,6
2008    9,9    369,2
2009    6,8    339,9s
2010    11,3    531,1
2011    6,6    389,3
2012    8,0    330,1
2013    3,6    263,6
2014    -1,7    154,4
2015    -8,6    -179,8
2016*    -8,3    -253,4

(*) Volume segundo o comércio varejista 
ampliado, que inclui vendas do setor 
automotivo e de materiais de construção

Fontes: CNC, IBGE e MTPS