Correio braziliense, n. 19311, 09/04/2016. Economia, p. 9

Com impeachment mais próximo, dólar desaba

Rodolfo Costa

As perspectivas de o impeachment da presidente Dilma Rousseff ser aprovado na Câmara dos Deputados deram ânimo novo aos investidores. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) encerrou as negociações de ontem com alta de 3,67%, nos 50.292 pontos. Já o dólar recuou 2,59%, cotado a R$ 3,597 para a venda. Na avaliação dos especialistas, o fim do governo da petista poderá resgatar parte da confiança, com o sucessor sinalizando um ajuste fiscal consistente. Para o mercado, Dilma perdeu a capacidade de resgatar a economia do atoleiro. As projeções são de queda de pelo menos 4% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e demissão de quase 2 milhões de trabalhadores.

Com o bom humor dos mercados internacionais, os investidores se apegaram a todas as notícias que sinalizassem derrota do governo na comissão do impeachment e no plenário da Câmara. Houve euforia, sobretudo, com o parecer assinado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, alegando desvio de finalidade na decisão de Dilma de nomear o ex-presidente Lula para a chefia da Casa Civil. Para os especialistas, ao afastar o líder petista do governo, Janot enfraquece as tentativas da presidente de enterrar o impedimento. “A torcida é para que o processo de afastamento de Dilma acabe logo e o país volte à normalidade”, disse um operador.

O dólar se desvalorizou em relação às principais moedas do mundo, mas, no país, o movimento foi mais forte, devido às consecutivas derrotas do governo. A moeda norte-americana foi cotada abaixo de R$ 3,60 pela primeira vez desde o início do mês. Até a quarta-feira passada, os ventos estavam soprando a favor de Dilma. Mas o vazamento de parte da delação da Andrade Gutierrez, apontando que a empresa usou dinheiro do superfaturamento de contratos com a Petrobras para fazer doações legais à campanha eleitoral da presidente, trouxe de volta chances maiores de o mandato presidencial ser encurtado, probabilidade que foi ampliada com a decisão de Janot.

“Sabemos que quem substituir Dilma não conseguirá fazer muita coisa de imediato, dado o estrago que se fez na economia. Mas é preciso mudar. O governo perdeu legitimidade”, ressaltou um executivo de um dos maiores bancos privados do país. “Não se trata de torcida contra. O problema é que o Brasil não aguenta mais a paralisia. Nada do que o governo venha a anunciar terá apoio dos agentes econômicos”, acrescentou. No entender do executivo, o impeachment é traumático, mas pior é ver a economia em frangalhos, com o risco de o Brasil mergulhar em uma depressão.

A possibilidade de saída de Dilma favoreceu as ações de empresas estatais, pois, na opinião dos analistas, com um novo governo, diminuirá a ingerência política nas companhias. Os papéis ordinários (ON) da Petrobras avançaram 5,53%, para R$ 10,49, somente ontem. As ações preferenciais da petroleira subiram 7,27%, a R$ 8,26. Já os títulos do Banco do Brasil deram um salto de 11,53%, para R$ 20,90. “Essas empresas precisam se livrar das amarras do Palácio do Planalto. Já perderam dinheiro demais com as interferências”, frisou um operador. Ele ressaltou que a alta do petróleo e a declaração de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que a economia norte-americana está em “trajetória sólida” ajudaram a embalar o bom humor.

 

Bovespa compra a Cetip

 

A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) e a Cetip confirmaram ontem que vão unir suas atividades após meses de negociação. O casamento das companhias, que ainda depende da aprovação dos acionistas e do aval dos órgãos reguladores, criará uma gigante com aproximadamente R$ 40 bilhões em valor de mercado e que reunirá o mercado de renda fixa e variável no Brasil. Em fato relevante divulgado ao mercado, a bolsa informou foi que o preço mínimo a ser pago pela Cetip será de R$ 42 por ação (sendo R$ 30,75 à vista, em dinheiro). Dessa forma, a empresa foi avaliada em pelo menos R$ 11 bilhões.

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Pressão na Petrobras

 A Petrobras resiste, mas a presidente Dilma Rousseff continua pressionando a estatal para reduzir os preços da gasolina e do diesel a fim de criar fato positivo para o governo em meio à guerra do impeachment. Estava tudo certo para que a estatal anunciasse a queda nos valores na última segunda-feira, mas uma rebelião do Conselho de Administração da petroleira acabou por adiar o anúncio. A diretoria da companhia, que já tinha cedido aos apelos do Palácio do Planalto, informou que, por ora, não há perspectiva de mexida nos preços. Somente a gasolina poderia cair entre 7% e 10%.

 

Integrantes do Conselho de Administração da Petrobras afirmaram que a empresa não pode se dar ao luxo de reduzir os preços dos combustíveis agora, pois, além de necessitar resgatar a confiança do mercado, precisa fazer caixa para cumprir seus compromissos. A gasolina no país está bem mais cara que no exterior. A petroleira tem dívida de R$ 492 bilhões, que equivale a duas vezes o patrimônio. A maior parte desses débitos vence nos próximos três anos. Somente em 2015, a estatal registrou prejuízos de R$ 35 bilhões, o maior da história da companhia. Parte das perdas se deveu à corrupção descoberta pela Operação Lava-Jato.

 

Produção

Ontem, a empresa informou que a produção média de petróleo ficou estável na passagem de janeiro para fevereiro, em 2 milhões de barris por dia (bpd), devido “à continuidade das paradas programadas para manutenção em plataformas”. A estabilidade não animou os especialistas, que ainda veem problemas de gestão na empresa. Por isso, boa parte do mercado defende o impeachment de Dilma para que a companhia possa se reinventar e ser profissionalizada. Na camada do pré-sal, a produção média diária ficou em 874 mil barris de petróleo por dia, com aumento de 6,2% em relação ao mês anterior (822 mil bpd).