Título: Saudades das lutas
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2011, Política, p. 4

Belo Horizonte ¿ Fazia tempo que Zenaide Ferraz Campos, de 64 anos, e Francisco Rezende, de 69, de Belo Horizonte, não participavam de uma manifestação popular. No entanto, o tempo longe das ruas não fez com que o casal esquecesse o espírito de luta e a vontade de mostrar o seu descontentamento com o que está errado no país. Ontem, Zenaide e Francisco levaram apitos para a Praça da Liberdade e acompanharam os cantos de outras 350 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, que pediam um basta à corrupção. Já Vinícius Rodrigues, de 7 anos, participou pela primeira vez de um ato público pelas ruas da capital, com outras crianças, que deixaram a diversão de lado na tarde do feriado para acompanhar os pais na marcha contra a corrupção.

"Participei há muito tempo de grandes manifestações lá no Rio, em uma época que era comum as pessoas saírem às ruas mostrar a insatisfação com erros e injustiça dos governantes. Hoje, a mobilização volta a ganhar força e tomara que cresça cada vez mais", lembra Francisco. Para Zenaide, a cobrança pelo fim da corrupção é um ótimo exemplo de cidadania e pode ser um passo importante para que os brasileiros voltem a cobrar seus direitos de maneira ativa. Sobre as diferenças dos movimentos atuais com as antigas manifestações que levavam milhares às ruas, a aposentada vê na ausência de líderes um dos motivos para a menor adesão das pessoas. "Talvez o que falte mesmo são os comandos mais ideológicos que existiam antigamente, com líderes que conseguiam coordenar bem o público e transformar a insatisfação em lutas populares, mas esperamos que os movimentos pela ética continuem crescendo", afirma Zenaide.

Internet

Como em outras cidades do país, a manifestação de Belo Horizonte foi organizada por meio de redes sociais. Cerca de 200 pessoas confirmaram a presença no evento. Os participantes combinaram de levar faixas e os detalhes da concentração na Praça da Liberdade a partir das 14h e depois fazer uma passeata até a Praça Sete. O grupo, que se reuniu ao lado do coreto, foi ganhando cada vez mais gente ao longo da tarde, com os participantes se revezando no alto-falante para convocar mais pessoas a participar do movimento e falar sobre os problemas que percebiam nas ações dos governantes. "Uma maratona começa com o primeiro passo e, se não reclamarmos do mau uso do nosso próprio dinheiro, quem é que vai reclamar?", indagou o aposentado Cláudio Duarte, de 61 anos, ao microfone. Os participantes da marcha contra a corrupção mostraram que estão acompanhando de perto propostas que tramitam no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF) para reduzir a corrupção no Brasil. Nas faixas carregadas pelos manifestantes estavam pedidos pela validade da Lei da Ficha Limpa já nas próximas eleições, exigências para uma punição efetiva dos mensaleiros e o fim do voto secreto no Congresso.