Correio braziliense, n. 19321, 19/04/2016. Cidades, p. 21

Vacinação contra H1N1 tem longas filas

Otávio Augusto

Uma das principais medidas preventivas contra o vírus H1N1 é a vacinação. Na rede pública, a campanha de imunização começou ontem para quatro grupos de risco. Longas filas de espera e desinformação marcaram a procura pela proteção. A Secretaria de Saúde disponibilizou o imunobiológico em 89 postos em toda a capital federal. A primeira parcela da população a ser atendida totaliza 295 mil pessoas.

Antes mesmo das 7h da manhã, as principais unidades de saúde concentraram grande movimentação. Somente no Centro de Saúde nº 4 da Estrutural, as equipes de enfermagem aplicaram cerca 400 doses. A fila era organizada com senhas, e uma sala ficou reservada exclusivamente para a campanha. Crianças entre 6 meses e 5 anos, gestantes, mulheres com até 45 dias pós-parto e os servidores da saúde iniciaram o serviço.

Em alguns momentos do dia, houve empurra-empurra, bate-boca e informações desconexas. Por volta das 11h, o Centro de Saúde nº 11, da 905 Norte, encerrou o atendimento nas duas salas destinadas à imunização contra a gripe para o intervalo do almoço, mesmo com alguns pacientes aguardando — antes do horário recomendado pelo Executivo local, que vai das 8h às 12h e das 13h às 17h.

A dona de casa Loide de Souza, 30, reservou grande parte da tarde de ontem para conseguir a vacina para o filho, Lucas Eduardo, 2. A moradora da Estrutural ficou pelo menos uma hora na fila. “Eu brinco que ele chora agora para eu não chorar depois. Este ano, a gripe está mais forte e causando muitas internações”, argumentou.

Roberta Moreira, 23, mãe de Caio Miguel, 4 e Rebeca Moreira, 2, enfrentou uma espera longa para imunizar as crianças. A mulher chegou pouco antes da 13h, mas, por volta das 15h, ainda estava na unidade de saúde da Estrutural. “O Caio é mais frágil para gripe. Por isso, eu me adiantei para vaciná-lo logo no início da campanha”, contou a trabalhadora autônoma.

 

Casos

A capital federal contabiliza 45 infectados pelo H1N1, cinco mortes — duas ainda são investigadas — e 183 suspeitas. O avanço da doença é devastador. Em apenas sete dias, o número de casos aumentou 73% e o de situações que podem estar ligadas ao vírus cresceu 115%.

Santa Maria (com 7 casos), Asa Norte (6) e Taguatinga (4) são as regiões administrativas que mais registraram doentes. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde, 40% das situações ocorreram em menores de 1 ano de idade. Metade dos casos de síndrome gripal acometeu gestantes. Nove pessoas estão internadas — sete em estado grave.

Quem não está incluído no grupo de risco procurou os postos de saúde apavorado com o perigo da gripe. O aposentado Antônio Gato, 76, toma a vacina desde 2001 e diz estar temeroso com os níveis que o mal pode atingir este ano. “A cada semana, tem mais gente ficando doente e os casos graves nos deixam preocupados. Não há como ignorar o assunto neste momento”, concluiu o morador da QSD 14, em Taguatinga Norte.

Apesar de o idoso ter ido ao Centro de Saúde nº 2, na Praça do Bicalho, ele não recebeu a imunização. “Deveriam ter incluído as pessoas da minha faixa etária nesse primeiro grupo. Uma idosa morreu este ano com as complicações da gripe”, reclamou. Os demais grupos que fazem parte do público-alvo começam a ser vacinados em 30 de abril, durante a campanha nacional.

A capital federal recebeu 260.720 doses do Ministério da Saúde, das 620 mil que serão disponibilizadas pela rede pública de saúde. A previsão do governo local é que até 30 de abril — dia nacional de vacinação — o estoque atinja 50% do necessário. Entre 25 e 27 de abril, o Executivo distrital deve arrecadar outras 61 mil doses. Ao todo, serão cinco complementos.

A supervisora de enfermagem Deusenice Barcelos, 48, tomou a vacina no início da manhã. “É importante as pessoas se imunizarem. Não há motivo para desespero, mas a prevenção é o melhor caminho”, ressaltou. Na unidade de saúde onde trabalha, três servidoras se revezam no atendimento aos pacientes. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a vacinação é gratuita e, no Distrito Federal, é disponibilizada em todos os postos de saúde. A secretaria afirmou que só se manifestaria com um balanço na sexta-feira.

 

Para saber mais

Atenção para a imunização

 

A vacina dada na rede pública é a trivalente — contra as gripes H1N1, H3N2 e Influenza B. Quem tomou essa também pode tomar a quadrivalente — que protege contra outro subtipo de Influenza B —, mas deve aguardar pelo menos 30 dias entre as doses. A eficácia varia entre 60% e 90%, dependendo da faixa etária do paciente e de outros fatores, como presença de infecções e doenças crônicas como diabetes, asma e outras males respiratórios. Em média, a vacina leva de 30 a 60 dias para começar a fazer efeito.