O Estado de São Paulo, n. 44732, 07/04/2016. Política, p. A7

TEMER IRONIZA DECISÃO DO STF E ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Vice diz que teria de ‘voltar à faculdade’ ao ler despacho de Marco Aurélio sobre impeachment e classifica nova votação como ‘jeitinho’
Por: Isadora Peron

 

Isadora Peron / BRASÍLIA

 

O vice-presidente Michel Temer disse ontem ter ficado “extremamente espantado” com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, que determinou a abertura de uma comissão para analisar um pedido de impeachment dele na Câmara. O vice também criticou e chamou de “jeitinho” a proposta de convocar eleições gerais para resolver a crise política do País. “Eu tenho o maior respeito (pelo ministro), mas confesso que fiquei extremamente espantado no plano jurídico com a liminar que foi concedida”, afirmou Temer. Na primeira entrevista concedida desde 12 de março, no gabinete da Vice-Presidência, o peemedebista ironizou a decisão de Marco Aurélio e disse que, ao ler o despacho, pensou que teria que “voltar ao primeiro ano da faculdade de Direito para reaprender”. Temer se defendeu e declarou não ter feito as chamadas pedaladas fiscais quando assinou quatro decretos que elevavam gastos. Destacou que o Tribunal de Constas da União (TCU) já havia considerado lícitas suas decisões, tomadas quando assumiu a interinamente a Presidência da República. O Estado revelou em dezembro que Temer havia assinado os decretos. As pedaladas são o principal argumento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara. Aliado de Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), havia rejeitado o pedido que alegava que o peemedebista também deveria ser afastado do cargo por esse motivo.

 

Novas eleições. O vice rompeu o silêncio dois dias após o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) propor a convocação de novas eleições, medida apoiada também pelo presidente do Senado, Renan Calheiros(PMDB-AL).Para Temer, a proposta seria um “jeitinho” que, em vez de resolver, agravaria a crise política. “Eu acho que a Constituição prevê mecanismos que já estão sedimentados na nossa ordem jurídica, para a solução de qualquer crise política”, disse o vice. Ele, no entanto, afirmou que, se a proposta for aprovada pelo Congresso, terá de ser cumprida. Questionado se o impeachment de Dilma seria a solução para a atual crise, Temer disse que não comentaria o assunto. “Eu fiquei um bom tempo em São Paulo exata e precisamente para não parecer que eu estou trabalhando em qualquer sentido, qualquer direção negativa.” O vice também afirmou que não considerou um erro o PMDB decidir sair do governo, porque esse era um sentimento majoritário no partido. “Mais de 82% do diretório compareceu (na reunião da semana passada) e disse que queria separar-se, e eu sou obediente ao que o meu partido diz”, afirmou Temer. A decisão de romper com o Palácio do Planalto foi criticada até mesmo por peemedebistas. Seis dos sete ministros do partido decidiram continuar no governo, em vez de seguir a orientação de entregar os cargos. A expectativa de que as demais legendas da base aliada também rompessem com o governo não se concretizou. Essas siglas, agora, negociam para ocupar o espaço deixado pelo PMDB na Esplanada.

 

Pela ordem

“A Constituição prevê mecanismos que já estão sedimentados na ordem jurídica, para a solução de qualquer crise política”

Michel Temer

VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA