Correio braziliense, n. 19323, 21/04/2016. Política, p. 4

Os efeitos da delação premiada de Gim

Guilherme Waltenberg 

A provável delação premiada do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), em fase de negociações, já começou a provocar reações dentro do Congresso. Com participação ativa nas comissões parlamentares de inquérito que investigaram a corrupção na Petrobras em 2014, ele teria conhecimento de desmandos cometidos por outros congressistas ao longo do processo. O próprio Gim está preso, acusado de atuar para impedir a convocação de empreiteiros pelas CPIs.

De acordo com ex-integrantes tanto da comissão instalada no Senado quanto do grupo misto, que incluiu os deputados, Gim atuou como coordenador das articulações que impediram o avanço das investigações e levaram a um relatório final sem grandes acusações. “Esse tipo de ação não é feito de maneira solitária. Eram mais de 30 parlamentares de diferentes partidos. Quem participou com ele já está apreensivo”, relatou um deputado.

A delação, no entanto, ainda não está confirmada. O advogado de Argello, Marcelo Bessa, afirma que não foi feita nenhuma tratativa nesse sentido, mas pessoas próximas ao ex-senador, no entanto, garantem que, uma vez preso e privado do contato com a família, ele deve fazer o acordo de colaboração com a Justiça. Para eles, caso ainda não tenha sido fechado, é apenas uma questão de tempo até que seja assinado.

Integrantes da oposição ficaram animados com a possível delação. O líder do PSDB, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), por exemplo, destacou o fato de que foi produzido um relatório paralelo ao oficial, contendo acusações. “Queríamos indiciar uma série de pessoas, mas no relatório que acabou sendo ratificado ficaram pouquíssimas denúncias”, lembrou. Dessa forma, Imbassahy acredita que esse é um problema mais para o governo e aliados à época.

 

Propina

Gim está preso desde o dia 12, sob suspeita de ter recebido doações de empreiteiras para evitar a convocação de executivos para depor nas CPIs instaladas no Congresso. Os pagamentos, segundo a força-tarefa da Lava-Jato, teriam sido feitos na forma de doações eleitorais para a campanha de 2014. Na época, Argello concorreu ao Senado, mas perdeu.

No mandato anterior, ele foi o vice-presidente da CPI que investigou a Petrobras no Senado. Gim tinha também relação próxima com a presidente Dilma Rousseff, que articulou, sem sucesso, a indicação dele para se tornar ministro do Tribunal de Contas da União. Além disso, os dois chegaram a fazer caminhadas juntos.

 

Em dezembro do ano passado, Gim prestou depoimento para a Polícia Federal após ter sido citado na delação premiada pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, como suposto destinatário de dessas propinas. O valor cobrado por ele, segundo Pessoa, era R$ 5 milhões.

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STF anexa informações de Delcídio

O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ontem que trechos da delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) sejam incluídos no inquérito que tramita desde março do ano passado perante a Corte e investiga a formação de quadrilha para atuação no esquema de corrupção na Petrobras. Teori autorizou a juntada de cinco termos de depoimento do senador, nos quais são citados, entre outras autoridades, a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A decisão atende a pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e não torna os três formalmente investigados pelo STF. Por ora, segundo o procurador-geral, basta a juntada das informações prestadas por Delcídio. Para Janot, os esclarecimentos do delator “aperfeiçoam entendimento” sobre o esquema criminoso investigado. Chamado por investigadores de “quadrilhão”, o inquérito que apura a formação de quadrilha para atuar na Lava-Jato tem 39 investigados até o momento, com parlamentares do PP, PT e PMDB, além de operadores do esquema.

Ao pedir a juntada dos depoimentos de Delcídio ao inquérito, a Procuradoria-Geral da República aponta que a delação do senador foi um “inovador acordo” de colaboração premiada. Até agora, faziam parte dos núcleos financeiro, administrativo ou econômico do esquema, mas Delcídio avançou sobre o núcleo político. De acordo com a PGR, fazem parte do núcleo administrativo que colabora com as investigações o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-gerente executivo da estatal Pedro Barusco.

O núcleo econômico tem os executivos Ricardo Pessoa, Eduardo Hermelino Leite e Dalton Avancini. Já o núcleo financeiro contou com delações do doleiro Alberto Youssef e de seu funcionário Rafael Ângulo. Foram juntados ao inquérito sobre quadrilha cinco termos dos 21 que compõem a delação de Delcídio. O primeiro deles trata da “nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras” e da “ingerência da presidenta Dilma Rousseff para a nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora”, expressões usadas na própria delação.

 

No depoimento, Delcídio afirmou que em 2003 começaram as discussões sobre quem seriam os diretores da Petrobras no primeiro governo Lula. Nesse contexto, mencionou que Dilma “tinha relação” com Nestor Cerveró, com Rodolfo Landim e com Graça Foster em razão da atuação como secretária de Energia no Rio Grande do Sul. Segundo ele, Lula já tinha o nome de Cerveró para a Diretoria Internacional e “inclusive Dilma, como então ministra das Minas e Energia, também estava de acordo”. Delcídio narra no depoimento que o PMDB passou a ter força na Petrobras após o escândalo do mensalão ter sigo revelado, pois o governo Lula precisava do apoio do partido para governar.