Correio braziliense, n. 19323, 21/04/2016. Política, p. 6

Renan rejeita pressão de Cunha

O Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez um duro ataque, ontem, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por tentar apressar a votação pelos senadores do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na última segunda-feira, um dia após os deputados aprovarem o pedido contra a presidente, Cunha foi categórico ao dizer que a Câmara não votará nada relevante até que o impeachment seja apreciado pelos senadores.

“Quanto mais o presidente da Câmara tentar interferir no ritmo do andamento do processo no Senado, sinceramente ele só vai atrapalhar”, disse Renan. “A paralisação da Câmara não ajuda o Brasil, esse ‘locaute’ não ajuda o Brasil, ele só atrapalha ainda mais a situação que já é muito ruim”, frisou ele, na chegada a seu gabinete.

Para o peemedebista, de todos os impeachments, a autorização dada pela Câmara para que o Senado aprecie o pedido contra Dilma foi o que mais demorou. Segundo ele, isso se deveu exatamente por causa da judicialização. A decisão de Cunha de admitir o pedido foi dada no início do mês, mas a manifestação dos deputados só ocorreu no último domingo.

Renan disse que o Senado, “por mais que se queira”, não pode atropelar prazos, e nem deve fazer isso perante a história. Em outra crítica à Casa comandada por Cunha, ele disse que, enquanto a Câmara votava o impeachment, o Senado apreciava uma série de projetos, entre eles a Lei de Responsabilidade das Estatais, as mudanças na exploração do pré-sal e o desaparelhamento da gestão dos fundos de pensão.

Para o peemedebista, o Senado vai “sempre” distinguir os interesses do Brasil dos interesses dos governos, que são efêmeros e passageiros. Mantendo o seu discurso de que age de forma imparcial, Renan não quis opinar sobre se o relator da comissão do impeachment, que deve ser eleito na próxima segunda-feira, deve ser de um partido neutro. Ele disse que não ficaria bem tentar influir ou decidir sobre a indicação de ninguém.

 

Périplo

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, se reuniram ontem com senadores para apresentar argumentos contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Reunida no gabinete do senador Jorge Viana (PT-AC), metade da bancada do PT foi anfitriã do encontro, do qual também participaram senadores que indecisos ou que já se posicionaram a favor da instauração do processo.

Na primeira parte, Barbosa fez uma explanação de motivos que defendem a legalidade dos decretos de créditos suplementares, razão pela qual a presidente foi denunciada por crime de responsabilidade. O ministro distribuiu aos senadores um documento em que reúne seus argumentos. Em seguida, Barbosa foi se encontrar com o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL).

Na segunda parte da reunião, o advogado-geral da União apresentou a argumentação jurídica contra o impeachment. Na entrada, Cardozo afirmou que vai tentar apresentar a defesa da presidente ainda na primeira fase do processo no Senado, quando a comissão especial decidirá sobre a admissibilidade do impeachment. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que já se declarou favorável à admissibilidade do processo, achou a reunião produtiva. Segundo ele, o ministro tem muitos argumentos. “Essa conversa pode mudar a posição de muita gente, mas apenas para o julgamento final, não quanto à admissibilidade. Essa, acho que já está definida”, disse.

 

Frase

“A paralisação da Câmara não ajuda o Brasil, esse ‘locaute’ não ajuda o Brasil, ele só atrapalha ainda mais a situação que já é muito ruim”

 

Renan Calheiros (PMDB-AL), Presidente do Senado