O Estado de São Paulo, n. 44726, 01/04/2016. Política, p. A6

‘JAMAIS’ INTERFERIRIA NA JUSTIÇA, DIZ TEMER 

Pelo Twitter e em reunião com empresários, vice nega pretensão de ‘enterrar’ a Lava Jato ou tratativas sobre eventual equipe de governo
Por: Gustavo Porto/ Isadora Peron/Alexa Salomão

 

Gustavo Porto

Isadora Peron / BRASÍLIA

Alexa Salomão

 

O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), rompeu ontem o silêncio dos últimos dias. Sua primeira manifestação pública pós o rompimento do seu partido com o governo ocorreu por meio de uma série com oito postagens no Twitter. Temer está em São Paulo e se reuniu com empresários. No microblog, negou que esteja negociando cargos, caso assuma o mandato com o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Outro registro que quero fazer é que eu já estaria negociando cargos, recebendo parlamentares e partidos para fazer negociação de cargos. Sou muito procurado, mas não trato desse assunto. Não trato sequer do assunto do que possa ou não possa acontecer”, relatou. Temer negou ainda que esteja interferindo na Justiça, uma referência às notícias de que ele articularia o fim da Operação Lava Jato caso assuma o governo. “Isso eu jamais faria.” O vice-presidente lembrou que seu primeiro mandato na Câmara foi como deputado federal constituinte na comissão que discutiu o Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal. “Ajudei a estruturar essas instituições”, destacou.

 

Empresários. O vice-presidente está em São Paulo desde terça-feira, quando o PMDB rompeu com Dilma, e deve ficar na capital paulista nos próximos dias, segundo assessores. Ontem, Temer se reuniu com empresários em um almoço organizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial(Iedi)com mais 30 executivos e empresários dos mais diversos setores. Além do presidente da entidade, Pedro Wongtschowski, da Ultrapar, estavam presentes os empresários Dan Ioschpe, da indústria de autopeças Iochpe-Maxion Pedro Passos; outros da indústria de cosméticos Natura; Flávio Rocha, da rede varejo Riachuelo; Josué Gomes da Silva, da indústria Têxtil Coteminas. Para o grupo, Temer também fez questão de reforçar que não pretende intervir nas investigação da Lava Jato. A maior parte do almoço, porém, foi dedicada a enfatizar que o partido defende as medidas apresentadas no documento “Uma ponte para o futuro”, lançado no final do ano passado, com propostas de mudanças na área econômica. “Ele foi estabelecer uma ponte”, definiu um dos presentes. O tom das declarações do vice-presidente foi considerado “mais liberal” que o usual. Segundo interlocutores, Temer se colocou como “um conciliador para acalmar os ânimos”, mas a visão geral é que, ainda assim, até o momento, é difícil imaginá-lo como um “reformista”, caso venha a assumir um eventual governo de transição – e reformas são consideradas uma prioridade para tirar o País da crise. O tema mais delicado ficou de fora da agenda. Temer não falou em aumento de impostos e a volta da CPMF. Ninguém também enveredou na discussão, considerada essencial para a maioria dos executivos. Entre as propostas do documento que ele enfatizou estava, na área fiscal, a adoção do orçamento base zero e a criação de uma “autoridade orçamentária” para acompanhar os gastos e investimentos do governo. Temer também destacou a importância de uma “repactuação federativa” para descentralizar o governo. Destacou ainda que considera prioridade a adoção de medidas que possam incrementar as concessões públicas, inclusive com parcerias público-privadas.