O Estado de São Paulo, n. 44726, 01/04/2016. Política, p. A9

PF INDICIA GLEISI E BERNARDO NA LAVA JATO

Senadora e ex-ministro são acusados de ter recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobrás para campanha em 2010; casal nega
Por: Andreza Matais / Julia Affonso

 

Andreza Matais / BRASÍLIA

Julia Affonso

 

A Polícia Federal indiciou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e - Comunicações do Governo Lula), por corrupção passiva, ao concluir que o casal recebeu R$ 1 milhão de propina oriundo de contratos da Petrobrás, dentro do esquema investigado pela Operação Lava Jato. A senadora teria recebido o valor em espécie na campanha de 2010 para custear as despesas da eleição ao Senado. Também foi indiciado o empresário Ernesto Kugler Rodrigues, de Curitiba. Segundo a PF, Bernardo teria solicitado a quantia ao doleiro Alberto Youssef ou ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa para custear a campanha. Para a Polícia Federal, o ex-ministro tinha conhecimento de que os valores eram ilícitos, caso contrário não os teria solicitado ao ex-dirigente da estatal. A PF ainda aponta que Ernesto Kugler Rodrigues recebeu o valor em quatro parcelas a pedido da senadora e do marido. Em delação, Youssef chegou a afirmar que, por orientação de Costa, entregou pessoalmente R$ 1 milhão a “um senhor em um shopping de Curitiba”.O doleiro reconheceu o homem como sendo Ernesto Kugler Rodrigues. Durante as investigações, a Polícia Federal encontrou na agenda de Paulo Roberto a inscrição a “1,0 PB” e confirmou que se tratava do ex-ministro. Os valores, segundo os federais, foram levados de São Paulo a Curitiba por Antonio Carlos Fioravante Pieruccini, advogado ligado a Youssef que documentou todo o local da entrega para os policiais. A PF identificou ainda registros telefônicos que confirmariam a propina para a campanha. Gleisi também negou à Polícia Federal ter recebido os valores. No inquérito, Paulo Bernardo negou que tivesse solicitado os valores para a campanha de Gleisi. O ex-ministro alegou na época que havia uma orientação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que os ministros não se envolvessem na arrecadação das campanhas. Em sua delação premiada, o dono da UTC Engenharia Ricardo Pessoa contou que Paulo Bernardo lhe pediu financiamento para a campanha de Gleisi. Segundo o empreiteiro, as doações ao caixa oficial da campanha e também para ao Diretório Nacional do PT foram registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 

Defesas. De acordo com a assessoria de imprensa da senadora, que respondeu também em nome do ex-ministro, “todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor pela senadora Gleisi Hoffmann ou pelo ex-ministro Paulo Bernardo”. “São inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais, nada menos, do que cinco versões diferentes para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram.”