Título: Bolsas unidas contra a crise
Autor: Maryins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2011, Economia, p. 14

Seis mercados dos cinco principais países emergentes fazem acordo para permitir a venda de produtos financeiros. Ideia é criar um índice comum, como existe na Europa

Em meio ao caos econômico que abala sobretudo Europa e Estados Unidos, os principais países emergentes querem unir seus mercados para enfrentar a crise e sair da sequência de prejuízos que acumulam neste ano. Ontem, selaram uma aliança que vai permitir aos investidores a compra de determinados produtos financeiros em qualquer uma das bolsas dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Seis bolsas desses cinco países fazem parte da primeira fase do projeto. Juntas, elas movimentam US$ 9 trilhões mensais, um volume diário médio de US$ 422 bilhões. Ao todo, reúnem 9.481 empresas abertas. A ideia é criar um índice Brics, com as principais ações desses mercados, como o europeu FTSEurofirst 300.

Se esse indicador fosse lançado hoje, já nasceria com um resultado negativo de quase 18% no ano, de acordo com o desempenho dos três principais mercados: Brasil, Rússia e China ¿ o trio viu suas bolsas recuar, neste ano, para próximo dos níveis alcançados no auge da crise financeira global, em 2008. Ainda assim, na visão de Ravi Narain, diretor presidente da National Stock Exchange of India, os investidores têm grande interesse nessas economias emergentes devido ao crescimento previsto para essas regiões e pelo poder de consumo nessas nações. "A expansão da classe média sugere que a demanda também crescerá nesstes países e isso é positivo para os negócios", ponderou.

Segundo Edemir Pinto, presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), a previsão é que o projeto comece a funcionar, no mais tardar, no fim do primeiro semestre de 2012. Ele explicou ainda que não será criada uma empresa para gerir os ativos oriundos dessa aliança e que cada bolsa fará acordos bilaterais para determinar os produtos que estarão disponíveis nos respectivos mercados e a porcentagem de lucro que caberá a cada uma. "A segunda fase do projeto terá o desenvolvimento de produtos que oferecem acesso aos índices combinados de todas as ações desses mercados", afirmou.

"Todas as negociações vão ocorrer na moeda local dos países."

Vantagem

Os presidentes das bolsas estão confiantes de que a união irá melhorar o desempenho dos seus mercados. "Não necessariamente vai ser um big bang, mas com o tempo vai trazer muitas vantagens para os investidores", avaliou Charles Li, presidente executivo da Hong Kong Stock Exchanges and Clearing Limited (HKEx). "Os Brics, hoje, são uma commodity (produto com cotação internacional)."

Para Ruben Aganbegyan, presidente da Micex (Russia), essa união é um processo importante que vai trazer vantagens para os países, para a comunidade (Brics) e para os investidores. Madhu Kannan, diretor presidente da BSE, a bolsa indiana, explicou que, antes dessa aliança, os investidores locais estavam limitados e tinham dificuldade para acessar outros mercados. "Essa aliança também criará oportunidades para que os investidores dos outros países do bloco possam participar e contribuir para o crescimento da Índia", celebrou. O acordo foi fechado, ontem, durante a 51ª reunião geral da Federação Mundial de Bolsas (WFE, na sigla em inglês), em Johanesburgo, na África do Sul.

Alívio momentâneo

As principais bolsas do mundo ainda não conseguiram sair do vermelho em 2011 (veja quadro). Faltando menos de três meses para o encerramento do ano, elas amargam prejuízos expressivos e algumas delas, a exemplo de Shangai e da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegaram a níveis próximos do auge da crise financeira global, em 2008. Tanto para brasileiros quanto para chineses, a última semana foi de alento, mas o desempenho ainda é insuficiente para zerar as perdas. Aqui, uma onda de otimismo tomou conta do mercado nos últimos dias, principalmente porque os preços dos ativos ficaram baratos demais. Em Shangai, a melhora ocorreu por causa do socorro proposto pelo governo aos quatro grandes bancos do país e ainda pela promessa de que mais dinheiro está a caminho, tanto para o sistema financeiro como para empresas que estão se afogando em dívidas.

Derretimento (Em %)

A Bovespa lidera como a bolsa que mais andou para trás no acumulado do ano Bovespa 22,32 Milão 19,03 Moscou 17,78 Paris 15,95 Tóquio 14,57 Frankfurt 13,96 Shangai 13,82 Madri 8,96 Londres 8,02 S&P500 (NY) 4,94 Nasdaq (NY) 2,63 Dow Jones (NY) 1,39