Correio braziliense, n. 19326, 24/04/2016. País, p. 5

Veteranos do impeachment

Guilherme Waltenberg

Há pouco menos de 24 anos, em dezembro de 1992, o Senado Federal julgou o impedimento do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Daquela época, continuam na Casa apenas dois senadores: Raimundo Lira (PMDB-PB), atual presidente da Comissão Especial que analisará o pedido de processo contra a presidente Dilma Rousseff, e Garibaldi Alves (PMDB-RN). Ambos — que representam apenas 2,5% do Senado — votaram a favor do afastamento de Collor e hoje se mostram favoráveis a que Dilma tenha o mesmo destino. Garibaldi já declarou voto pelo impeachment e Lira, após dar o mesmo veredicto, voltou atrás quando foi escolhido presidente da comissão avaliando ser necessário ter neutralidade no processo.

“Eu era favorável ao impeachment. Mas, no momento em que aceitei a missão do meu líder, ficou estabelecido entre nós que eu teria uma postura suprapartidária. Então, não tenho uma posição, não posso ter um juízo de valor, se vou presidir uma reunião com opiniões”, disse Lira, quando anunciou que presidiria o grupo.

Quando foi julgado, Collor recebeu 76 votos a favor do impeachment e dois contrários. Em uma tentativa de escapar da cassação e manter os direitos políticos, o ex-presidente renunciou ao cargo um dia antes do julgamento pelo Senado, em 29 de dezembro de 1992. Ainda assim, os senadores seguiram com a votação e o ex-presidente ficou inelegível por oito anos. Agora, a história o insere no lado oposto ao daquela época. Ele será um dos julgadores, mas tem evitado dar declarações sobre o assunto. Nas principais listas que falam sobre o processo, seu voto aparece como indefinido.

Dos atuais 81 senadores, porém, 12 eram deputados na época do impedimento de Collor. Todos votaram a favor do afastamento do então presidente. São eles: Rose de Freitas (PMDB-ES), Lucia Vânia (PSB-GO), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Aécio Neves (PSDB-MG), Wellington Fagundes (PR-MT), Paulo Rocha (PT-PA), José Maranhão (PMDB-PB), Paulo Paim (PT-RS), Paulo Bauer (PSDB-SC), José Serra (PSDB-SP), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Eduardo Braga (PMDB-AM). Somados, eles representam 17,2% do Senado.

 

Caras pintadas

Outros dois senadores, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não estavam no Congresso, mas foram parte ativa dos protestos contra o então presidente. Lindbergh era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Randolfe fazia parte das manifestações, então na casa dos 20 anos. Hoje, ambos já se declararam contrários ao impedimento de Dilma. A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), favorável ao impedimento da atual presidente, avalia que há semelhanças e diferenças entre os dois momentos. No campo das semelhanças, ela ressalta a falta de interlocução política tanto de Collor quanto de Dilma com o Congresso Nacional.

“Enquanto o Lula (ex-presidente) auxiliava nessa interlocução, Dilma até teve bons momentos. Depois, nem ela nem os seus escolhidos conseguiram se fazer ouvir. Ela ficou totalmente isolada e desencontrada”, avaliou. Como diferenças, ela destaca o fato de na época haver um maior consenso sobre a necessidade de terminar o mandato do então presidente, Fernando Collor de Mello. “Se existe unanimidade, aquele foi um desses momentos de unidade da classe política e da população”, destacou. “Hoje, há setores que querem a permanência da presidente, como alguns movimentos sociais e partidos, entre eles o PCdoB”, concluiu.

 

 

Figuras repetidas

Quem são os atuais senadores que participaram do impeachment de Fernando Collor em 1992 e devem julgar Dilma Rousseff

 

Na Presidência da República em 1992:

» Fernando Collor (PTC-AL)

 

Quem estava no Senado em 1992:

» Raimundo Lira (PMDB-PB)

» Garibaldi Alves (PMDB-RN)

 

Quem estava na Câmara em 1992:

» Rose de Freitas (PMDB-ES)

» Lucia Vânia (PSB-GO)

» Ronaldo Caiado (DEM-GO)

» Aécio Neves (PSDB-MG)

» Wellington Fagundes (PR-MT)

» Paulo Rocha (PT-PA)

» José Maranhão (PMDB-PB)

» Paulo Paim (PT-RS)

» Paulo Bauer (PSDB-SC)

» José Serra (PSDB-SP)

» Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)

» Eduardo Braga (PMDB-AM)

 

Quem estava na União Nacional dos Estudantes em 1992:

 

» Lindbergh Faria (PT-RJ)