Correio braziliense, n. 19328, 26/04/2016. Política, p. 4

Ponte com tucanos e atenção à área social

Julia Chaib

Naira Trindade

Em meio à preparação do desenho de um eventual ministério, o vice-presidente Michel Temer segue com a série de encontros para aparar as arestas e conseguir montar um governo de união, como vem pregado. Amanhã, a Fundação Ulysses Guimarães deve lançar o programa Ponte para o futuro 2: Travessia social, com as diretrizes do partido para a área social, em que se compromete a manter as iniciativas. Além de conversar para estabelecer nomes estratégicos em áreas importantes, como vem cotado o senador Romero Jucá (RR) para o Planejamento, o vice trabalha para construir uma base no Congresso e garantir o apoio do PSDB.

Ao longo do fim de semana, Temer conversou por telefone com caciques tucanos. Falou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; com o presidente do PSDB, Aécio Neves; e com o senador José Serra. FHC teria se mantido mais neutro quanto à participação do partido em um governo Temer, enquanto Aécio disse que teria conversas institucionais sobre o assunto. O presidente do PSDB e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem defendido que os tucanos não tenham cargos uma gestão do peemedebista.

Já Serra é favorável à participação do governo tucano e se mostra disposto a ir para o Ministério da Fazenda. Para o PMDB, no entanto, mais do que ter Serra na pasta, interessa evitar mais rachas dentro do PSDB e contar com o apoio de mais tucanos em um possível governo, como no Congresso. “Para o PMDB, interessa o PSDB contente”, disse um dirigente peemedebista.

Ontem, Serra, que se reuniu com Temer no domingo, negou ter sido convidado para ministérios, mas defendeu a participação do partido. “O PSDB deve apresentar os pontos mínimos ao vice-presidente Temer. E, se Temer aceitar, deve sim participar do governo”, disse. Aécio se reunirá hoje com deputados e no próximo dia 3 haverá reunião da executiva. A tratativa sobre cargos, segundo Aécio, não é a prioridade, mas sim o programa do governo. “Vamos continuar coerentes. Dando nosso apoio a eventual governo Michel Temer (no Congresso), a partir do momento em que ele se comprometa com uma agenda emergencial, independentemente de cargos”, disse ontem o senador mineiro.

A preocupação com o apoio — não só espaços na Esplanada, mas em funções no Congresso — faz setores do partido defenderem que o eventual líder do PMDB no parlamento não seja da sigla, mas sim de aliados. O senador Romero Jucá seria um nome peemedebista que poderia ocupar a função, mas hoje é um dos nomes mais cotados para o Ministério do Planejamento. Ele reúne conhecimento econômico com o bom trânsito político.

Ontem à noite, Temer assistiu à participação de Jucá no programa Roda Viva, da TV Cultura, com o presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima, e os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, sua tropa de choque. Ao longo do dia, deu seguimento a conversas que nega se tratar de convites, mas apenas sondagens. Reuniu-se com o ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, e o líder do Partido Verde, deputado federal Sarney Filho (PV-MA), que falou sobre questões ambientais e afirmou que o partido vai colaborar com o governo caso seja convidado a incorporar a gestão Temer. “Ele disse que tem um plano muito inteligente que vai atender a expectativa popular”, disse Cardoso.

 

A ser lançado amanhã como complemento ao programa que trouxe perspectivas econômicas no ano passado e para dar respostas a boatos de que acabaria com programas sociais, o documento Ponte para o futuro 2: Travessia social prevê a manutenção de todas as iniciativas de assistência. No texto, há a avaliação de que 40 milhões de pessoas hoje estão inseridas em programas sociais, mas somente 5 milhões, porém, são extremamente pobres e dependem de políticas assistencialistas.