Correio braziliense, n. 19328, 26/04/2016. Política, p. 4
Reação do Planalto
Naira Trindade
Inicialmente criticada, a tese de antecipação das eleições presidenciais para este ano começa a ser admitida no Palácio do Planalto. Diante de um irreversível cenário de crise política e das dificuldades em governar caso consiga sobrevida após os 180 dias de afastamento, a presidente Dilma Rousseff analisa cautelosamente a hipótese de encurtar o próprio mandato para evitar que o vice-presidente continue no poder.
Para embasar a teoria, o governo vai se respaldar na última pesquisa Ibope, divulgada ontem, que mostra que tanto tucanos quanto petistas perderam terreno na corrida presidencial, além de um cenário bem negativo ao vice Michel Temer. De acordo com os dados, 62% dos 2.002 entrevistados querem eleger um novo presidente já. Enquanto 25% defendem a permanência de Dilma, apenas 8% preferem um governo Temer.
Diante dos números, ministros próximos à presidente argumentam que a melhor alternativa é Dilma começar a defender a tese de convocar novas eleições antes de ser afastada pelo Senado. Discutiu-se, porém, que a presidente pode ter perdido o timing de levantar essa bola. Para petistas, o assunto já teria de ser anunciado. Agora é melhor esperar pela admissibilidade no Senado para agir. “Nem o PT, nem a presidente (nunca disse isso de novas eleições).O PT não tem essa posição. Vamos lutar até o fim para que não interrompam a democracia”, esquivou o senador Paulo Rocha (PT-PA).
Se resolver encampar a tese de antecipação, Dilma vai usar uma PEC apresentada na semana passada por 30 senadores. A oposição, porém, já destacou que a questão é inconstitucional — uma vez que eleição é cláusula pétrea — e que se mobilizará para que a proposta não caminhe. Outra possibilidade é pressionar a ministra Maria Tereza, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para acelerar o julgamento das contas de campanha, que pode impugnar a chapa e, assim, o TSE convocaria novas eleições. Já a hipótese de judicializar é dada como certa, em várias etapas do processo. (NT)