Correio braziliense, n. 19329, 27/04/2016. Política, p. 4

Sem alternativa para barrar a provável aprovação da admissibilidade do impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff voltou a criticar o processo acusando o vice-presidente, Michel Temer, de “querer sentar na cadeira dela sem votos”. “Eles querem chegar, sentar na minha cadeira, mas sem voto. É claro que isso é muito confortável. Você não tem que prestar conta para o povo brasileiro. Você não tem que explicar para o povo brasileiro o que é que você vai fazer com os programas sociais.”

Em discurso enfático no estado que lidera em número de assistidos do Bolsa Família, a presidente afirmou que Temer quer revisitar programas sociais. “Isso é diminuir a quantidade de dinheiro que o governo federal coloca no programa para diminuir a prestação da casa própria que vocês pagam. Hoje, vocês pagam entre R$ 25 e R$ 50. É aumentar muito essa prestação ou é reduzir muito aquilo que viabiliza 2 milhões de moradias”, afirmou, na cerimônia de entrega de unidades do Minha Casa Minha Vida, na Bahia.

A presidente repetiu ser vítima de uma “grande injustiça” e que não cometeu nenhum crime de responsabilidade para sofrer um processo de impeachment. A seis meses das eleições municipais, a estratégia de frisar o discurso de que o PMDB apunhalou o PT pelas costas para tomar o poder ameaça inviabilizar a vitória de prefeitos e vereadores. “Ninguém gosta de traidores”, repetiu um petista próximo à presidente Dilma.

Encampando o discurso, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), ao cumprimentar seu vice, João Leão (PP), alfinetou Temer. “Esse vice tem palavra. Esse vice não é traidor. Esse vice tem caráter e não apunhala pelas costas”, disse o governador. Deputados da Bahia foram os mais fiéis a Dilma na votação da admissibilidade do impeachment na Câmara. “A Bahia me deu, naquele domingo, dia 17, por meio da sua bancada, o maior número de votos por estado da Federação. Então, agradeço também aos 24 deputados federais que tiveram a coragem e a dignidade de votar contra o golpe”, agradeceu Dilma.

 

No Palácio do Planalto, integrantes do governo já admitem que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff não se concretizou por erros cometidos por ela, que inviabilizaram o diálogo com o legislativo. Apesar disso, a tese de eleições antecipadas — bastante debatida — começa a ser descartada. Uma das alternativas será pressionar uma reprovação das contas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que a própria Corte casse a chapa e convoque novas eleições.